Quarta-feira, 14 de Maio de 2008
A Catraia Fanequeira de Vila Chã, Vila do Conde.

Quanto mais se investiga a fundo um determinado tema, mais se vai descobrindo, o que parecerá óbvio, mas quando esse tema está directamente ligado ao nosso passado pessoal por via familiar, então as descobertas têm um sabor bem mais especial, nem que seja só um detalhe. Sou dos que gosta de aprender história se possível com os temas e objectos nas mãos e não apenas por fotos e livros.

Quando se fala de embarcações de pesca tradicionais, em especial as lanchas poveiras e “suas derivadas”, pois são estas às quais estou mais ligado por tradição familiar das Caxinas e Póvoa de Varzim, não haverá nada melhor do que ter o barco à nossa frente, para lhe medir a bojadura do casco, a palamenta (todos os instrumentos e equipamento dentro do barco) ou apenas sentir a madeira nos dedos, ou a vela, ou os remos nas mãos. Para isso existem duas opções: algumas embarcações ainda sobreviventes ou os museus que as guardam. Ambas as opções são difíceis em Portugal, pois parece que o passado quase se apagou para estes barcos e os que existem são apenas a representação única das dezenas e centenas dos seus antepassados pelas praias do Norte do país.
Neste artigo escrevo sobre a Catraia Fanequeira de Vila Chã, um desses raros exemplos para além da Catraia Sardinheira de Esposende, Lancha do Alto da Póvoa de Varzim e uma embarcação nova à vela de Vila do Conde de nome “Baltazar” da qual só conheço um par de fotos nos encontros tradicionais na Galiza mas não encontro qualquer informação sobre a sua origem.
Esta catraia fanequeira, de nome “Nossa Senhora da Agonia”, é uma construção original de 1977 e foi adquirida e recuperada por João Baptista, da Associação Barcos do Norte, servindo também de barco de instrução à vela no Clube de Vela de Viana do Castelo no que refere à vertente da vela tradicional. No site oficial do clube, a catraia aparece de imediato como uma das fotos do cabeçalho, mas não existe qualquer outra informação, seja a sua história, fotos, medidas. Mais informação sobre ela pode agora ser encontrada no site da Associação Barcos do Norte, no link acima.
Na verdade, a foto a preto e branco aqui apresentada já nem me recordo onde a encontrei e as outras duas são de um excelente site Galego sobre embarcações tradicionais da Galiza (culturamaritima.org), onde alguns barcos de Portugal costumam participar nos encontros anuais ou bianuais. Estas fotos são do VIII Encontro no Ferrol em 2007.
Há pouco tempo, recebi um esclarecedor comentário do senhor José Felgueiras sobre a catraia sardinheira de Esposende. Este amigo, que também esteve presente na génese da construção desta réplica, menciona um detalhe importante (para quem gosta destes barcos) no que se refere a este tipo de embarcações pois não eram todas iguais de comunidade para comunidade. As catraias como a fanequeira (da pesca à faneca) eram mais alongadas para serem mais rápidas, pois na foz do Cávado em Fão/Esposende era necessário vencer a vazante e cascos mais bojudos não eram os mais indicados à zona de fortes correntes.
Da minha parte, antes de me dedicar em detalhe a estes barcos, julgava (muito com a imagem das lanchas da Póvoa em mente) que eram todas grandes e “gordas”, com uma enorme vela e muitos remos. Ora o casco, nem sempre era grande e gordo e eram barcos usados até à Figueira da Foz e Setúbal para os mais diversos tipos de pesca, o que lhes conferia cascos, tamanhos e detalhes de construção diferentes. Na verdade o tema é bem complexo e recentemente adquiri o livro de Octávio Lixa Filgueiras “O Barco Poveiro”, no qual me irei debruçar a seu tempo e onde se podem encontrar as variantes das medidas de cada barco. É possível encontrar este livro na Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim.
Espero obter comentários a este artigo de pessoas que conheçam melhor a catraia fanequeira, pois a sua forma interessa-me bastante, em especial as suas medidas e plano de construção e gostaria de ver mais informação sobre ela publicada. É pena que em geral no Norte de Portugal não se fomente a construção de mais réplicas e se desenvolvam as escolas náuticas também no seu uso, algo que na Galiza é muito comum. Há muito e muito trabalho a fazer se queremos voltar a ver estes barcos nas praias e por certo não incomodariam os turistas. No Algarve, as praias estão carregadas de barcos de pesca tradicional que andam ainda na pesca (não são “estátuas”) e o turismo agradece.


publicado por cachinare às 19:02
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2 comentários:
De Anónimo a 15 de Maio de 2008 às 16:07
Porque hoje o tempo urge, apenas duas dicas sobre
o tema:
N.Sra . Agonia, segundo João Baptista, presidente da
associação Barcos do Norte, foi construída em Vila Chã-Vila do Conde. Naveguei nela o ano passado, no
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Porque hoje o tempo urge, apenas duas dicas sobre <BR>o tema: <BR>N.Sra . Agonia, segundo João Baptista, presidente da <BR>associação Barcos do Norte, foi construída em Vila Chã-Vila do Conde. Naveguei nela o ano passado, no <BR class=incorrect name="incorrect" <a>Ferrol</A> . Desconheço suas dimensões. <BR>-Baltazar, embarcação em estado de nova, construída <BR>há mais de 30 anos nos estaleiros do Samuel-Vila do <BR>Conde, para o José Fernando Baltazar, mestre da Séca do Bacalhau. Pouco despois da sua construção <BR>mandou cortar o bico de ré, para colocar motor no <BR>painel. <BR>Em 2002, descobri este barco arrumado nos armazéns, cheio de trapalhada. Mais tarde, conseguiu-se a sua doação para a Ass.Ex-Marinheiros da Armada de Vila do Conde, actual proprietária. <BR>Mau grado os alertas, para além de ainda não ter sido recuperada com as características tradicionais, ainda foi fortemente adulterada. <BR>Uma pena!... <BR>-Quanto às praias do Algarve estarem "carregadas <BR>de barcos de pesca tradicional", isso era dantes; hoje é mais nos postais... <BR>Então aquela Praia de Albufeira, que eu tão bem conhecia, nesse aspecto é uma vil tristeza. <BR>Cumprimentos, <BR><BR>a) Albino Gomes


De Roque Gonçalves a 3 de Junho de 2011 às 22:33
A catraia Nossa Sra. D'Agonia é propriedade do Clube de Vela de Viana do Castelo. Foi cedida temporariamente, sob a responsabilidade do senhor João Baptista, da Associação Barcos do Norte, quando eu era presidente da direcção do referido clube, para que esta embarcação pudesse ser mostrada nos encontros de vela tradicional em Portugal e no estrangeiro.
Viana do Castelo, 02/06/2011.
Roque Gonçalves
(antigo presidente do CVVC)


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