Terça-feira, 13 de Novembro de 2007
Sangue-de-boi.
Sangue-de-boi é o nome do vermelho com o qual alguns navios da pesca ao bacalhau estavam pintados, nomeadamente os pertencentes à Parceria Geral de Pescarias, antes de por alturas de 1943 passar toda a frota nacional a ser pintada de branco, independentemente do armador, pois o decorrer da 2ª Guerra e Salazar assim o determinaram. Não convinha nada que os alemães continuassem a torpedear os nossos “simples” navios de pesca quando apenas iam em busca do seu pão e nada tinham que ver com a guerra. Tal sucedia porque “se distinguiam mal” no horizonte devido às suas cores escuras e pintar de branco, com uma grande bandeira nacional e nome a letras grandes foi a solução. No entanto, apesar de existirem várias fotos de navios da Parceria anteriores à “fase branca”, essas fotos são todas a preto-e-branco e como tal sempre me pús a imaginar como seria ver estes lugres de côr vermelho sangue-de-boi no horizonte, para além de outros armadores que os pintavam por exemplo de verde ou azul, como já li algures. Sendo que tal fotografia a cores por certo não existirá decidi eu mesmo trabalhar digitalmente o Creoula e passá-lo do tão conhecido branco (qual cisne) ao sangue-de-boi original de 1937. Não é uma obra de arte mas dá para ter uma ideia de como seria.
Curioso de reparar, é o “pequeno erro” descrito no blog lmc-creoula.blogspot.com sobre uma excelente réplica do navio existente no Museu de Marinha onde se pode “(...) apreciar o magífico modelo do lugre CREOULA na sua forma original com casco "sangue de boi", como foi construído em 1937”. Se após entrarem no link do blog, verificarem a foto, o casco é côr sangue-de-boi mas na parte que fica submersa e o resto visível é preto. Ora na minha opinião o navio está pintado “de preto”. Após mais alguma investigação, comprovo na edição da Revista da Armada de Maio 2007 que efectivamente todo o casco era em sangue-de-boi e tal é confirmado pelo seu antigo capitão, o Sr. Marques da Silva. As fotos a preto-e-branco são na verdade bastante enganadoras, pois até parece realmente que o Creoula era preto... mas o sr. Capitão confirmou como era na altura.
 
Fica agora a minha pergunta no ar; como vai ser pintado o casco do Santa Maria Manuela... ? Se a recuperação do lugre vai ser “fiel” a 1937 (tirando uns radares e várias outras tecnologias e confortos modernos), então será pintado a sangue-de-boi. Fico é a pensar qual seria o impacto no público, pois o branco do Creoula está tão enraizado no povo e é tão marcante da sua imagem (cá dentro e lá fora) que ver o seu irmão gémeo de vermelho poderia não agradar a muita gente. A minha opinião divide-se. Por um lado o branco é a imagem mais demarcada nacional e internacionalmente sobre a pesca bacalhoeira portuguesa do passado, a famosa Frota Branca e ver os dois navios gémeos lado a lado (ideal seria ter o terceiro, o Argus...) de branco, certamente causaria deslumbre e admiração geral contínua, indispensável a que se mantenham nas mentes das pessoas e instituições. Mas por outro lado, gostaria de ver o SMM tal como era quando nasceu e desse modo teria a sua imagem própria, pois se for pintado também de branco provavelmente a maioria ao vê-lo a navegar não saberá se é o Creoula ou o SMM. É importante que o SMM, sendo gémeo do Creoula, se demarque dele com a sua imagem própria, pois embora venha a ter funções (excepto militares) algo semelhantes, a sua história, conceito sobre o qual foi decidido recuperá-lo e mesmo a base onde irá morar, no Norte do país implicam diferenças e todo o projecto deve incorporá-las. Será certamente mais um “pormenor” a discutir por quem tem o projecto nas mãos. Uma terceira opção é que já não concordo. Ou sangue-de-boi, ou branco.


publicado por cachinare às 14:11
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