Terça-feira, 4 de Dezembro de 2007
Caxinas de antigamente 3/3.
Eis uma última quadra de fotos das Caxinas “que já lá vão”. A primeira foto é uma das minhas favoritas, pois fiz praia muitas vezes durante o Verão exactamente neste sítio e olhar para esta foto é pôr-me a sobrepor as imagens da memória com ela. Há 15 anos atrás já não existiam estes barcos pela praia fora e nunca imaginei que esta praia onde jogava eu futebol foi como esta foto ou seguinte mais abaixo onde se vê o portinho apinhado de gente, tudo cheio de movimento piscatório... e nenhuns banhistas, que hoje em dia e desde há vários anos invadem tudo. Por um lado é bom, pois trazem dinheiro à comunidade, mas por outro são também sinal de que a vida destas fotos já não é possível... ou é? Este passado Outubro, fiz 3.500 km de carro desde a Polónia até às Caxinas e foi xactamente em frente a este portinho que parei o carro antes de saudar a família. Foi aqui que pús os pés no chão pela primeira vez e de imediato fui até à areia todo contente. Do que se vê na foto, restava na praia uma caíca pequenota, penso que “só para enfeite” da praia, a recordar como era dantes e quando vejo o tempo de hoje e o turismo tão presente nas Caxinas, penso porque não se usam destes barcos tradicionais em prol dos turistas? Muitos pagariam para ir dar uma volta numa destas caícas e a tradição não morria ou caía no esquecimento. Lembro-me de uma altura em que se podia dar umas voltas de “gaivota”, daquelas a pedal, mas eu prefiro os barcos a remos. Dava-se trabalho aos estaleiros de Vila do Conde, construíam-se umas 10 ou 20 caícas que passariam a dormir de barriga para as estrelas como as suas antepassadas, para no Verão carregarem com turistas. Mais uma vez gostava eu que o que escrevo saísse desta página e fosse tornado realidade, mas na vida não basta gostar.
Numa outra foto, indica serem os anos 60 e as redes a virem dos barcos para cima e por fim na quarta está o “tio Manel” todo repimpado a arranjar o seu peixe ali junto à água sem querer saber dos turistas (ou simples caxineiros). É mesmo destes que eu gosto. Recorda-me o quanto gostava eu de arranjar o peixe lá de casa e as saudades que tenho disso. Sempre que tinha oportunidade e a mãe deixava, lá ia eu para o canto do quintal com duas bacias, uma cheia de peixe e outra de água, mais a faca bem afiada antes na pia da roupa, para ir arranjando os diferentes peixes. Como o pai é pescador e a mãe pescadeira, sempre houve em casa imenso peixe, de todos os tipos e tamanhos e por isso aprendi muito. Queria lá saber do cheiro nas mãos depois! Para um puto de 10 anos, alguns dos peixes eram um autêntico quebra-cabeças, pois havia os cheios de dentes como o peixe-sapo ou os que “lixavam” (não é palavrão) as mãos, como cações e raias. Havia os “escorregadios”, os “grandes demais para mãos ainda pequenas” os pirraus todos coloridos, raros e bem gostosos, enfim, era uma festa. Cá por Cracóvia não há festas destas... e as Caxinas estão longe, muito longe.
Tal como um colega intitulado “dolphin” comentou (e agradeço) há dias sobre algumas memórias de criança que aqui tenho transcrito, foram sem dúvida anos mágicos que gostaria de reviver ou de ver miúdos a fazerem o mesmo hoje. Daquele modo hoje é impossível, pois em 20 anos as Caxinas e o mundo mudaram muito. Que me perdoem o “cliché”, mas naquele tempo não havia computadores, telemóveis e pouca tv se via, excepto à noite. O tempo corria mais devagar. Não se tinha vergonha de andar descalço,  de levar o barco de lata debaixo do braço para ir brincar na praia, de jogar berlindes, caricas e pião em frente à porta, de correr feito doido pela rua fora com papagaios feitos de canas, pneus velhos de mota ou de lançar mini pára-quedas feitos de sacas de plástico do terraço da casa e que o vento levava sempre para o quintal de outro vizinho. O que temos hoje em dia transmite certos sinais que me fazem sentir mais pobre, ou melhor, afortunado por ter tido a “sorte” de nascer “naquele tempo”, em que a “civilização, limpeza e modernidade” ainda não tinham estragado certas coisas das quais pude usufruir. Digo por vezes que nesse tempo a mente de uma criança ainda era livre. Hoje, de tal duvido.


publicado por cachinare às 12:31
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De movimento_verde a 9 de Dezembro de 2007 às 04:55
Boas. Só um aparte na 4ªfoto não é o "tio Manel" a arranjar o peixe, mas sim o Tio "Tone Serrão", foi um dos últimos pescadores a abandonar a praia das Caxinas, tinha um barco azul, foi casado com a Tia "Lurdes Ramona" Moram ali mesmo junto á "rampa das Caxinas" ao lado da loja do "Tone Mateus"
Só mais um aparte(Foram os avôs do Fábio Coentrão que está no Benfica e do André Serrão do Rio Ave)

Cumprimentos
Moisés Cambola
1982.sampaio@gmail.com


De cachinare a 9 de Dezembro de 2007 às 19:50
Caro Moisés,
Agradeço imenso os detalhes sobre o tio Tone Serrão. Infelizmente já estou há demasiado tempo fora de Portugal...
Atentamente,
A.Fangueiro


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