Quarta-feira, 12 de Abril de 2017
"Cutty Sark" made in Vila do Conde.

«Vladimir Martus já trouxe para os estaleiros a reparação da "Shtandart", réplica de uma fragata russa. Ficou agradado com a qualidade e diz ter tudo pronto. "Só têm a ganhar, atraem turistas e incentivam os jovens", diz.

1 Vladimir Martus.jpg

Há 17 anos, Vladimir Martus concretizou um dos sonhos da sua vida: colocou a navegar uma réplica da fragata russa "Shtandart", construída em 1703, por Pedro, o Grande. O barco de guerra, com 28 canhões, está a ser alvo de uma grande reparação nos estaleiros navais de Vila do Conde, em que a experiência dos portugueses se cruza com o conhecimento dos voluntários russos. Agora, este engenheiro naval de 50 anos quer mesmo concretizar aquilo que já era visto como uma possibilidade - construir em Vila do Conde uma réplica do famoso veleiro "Cutty Sark", que chegou a ser português entre 1895 e 1922, navegando com o nome "Ferreira" (e "Maria do Amparo").

""O Cutty Sark" é um grande barco em madeira, tem 65 metros de comprimento e 11 de largura. Para ser construído precisa de espaço. Do que nós estamos a tentar convencer os portugueses, e temos falado muito com a Câmara Municipal e a Docapesca, é de que precisamos de condições. Queremos que a construção possa ser acompanhada pelas pessoas, como se fosse um museu. Só assim despertamos os mais jovens para a construção naval", disse ao DN Vladimir Martus enquanto dava a conhecer o seu "bebé", o "Shtandart".

1 shtandart sailing.jpg

Acabado de regressar de Londres, Numas diz ter a aprovação da Fundação Cutty Sark. "Está tudo pronto, temos projeto, orçamento e já definimos que Vila do Conde é um local ideal. Tem a mão-de-obra de que precisamos", explica. Mas é necessário investimento? O comandante do "Shtandart" ri. "Portugal não é um país de dinheiro. Mas é um bom sítio para se fazer coisas. Queremos é ter as condições para que a construção possa ser efetuada. Portugal tem muito a ganhar: este barco é conhecido internacionalmente, foi o último dos grandes clippers e tem o recorde mundial de navegação à vela entre a Austrália e a Inglaterra. E, melhor que isso, até foi português." Já tem datas, entre 1 de fevereiro de 2018 e 2020, e grande parte do financiamento, que pode chegar aos 25 milhões de euros, está garantido.

Vila do Conde, através da autarquia presidida por Elisa Ferraz, tem o projeto Um Porto para o Mundo, que prevê a candidatura da construção naval em madeira a património imaterial da UNESCO e o relançar de uma atividade que hoje tem dificuldades em estar ativa.

Na empresa Barreto & Filhos, onde está a ser reparada desde novembro, a embarcação russa é o motivo de maior azáfama. Dezenas de pessoas trabalham. Bruno Barreto, um dos sócios, reconhece que o facto de ser uma réplica implica outros cuidados. "A ajuda dos russos é fundamental", admite. Com 37 anos, Bruno é a nova face da construção naval em Vila do Conde. Diz acreditar que o "Cutty Sark" possa ser feito em Azurara, freguesia na margem esquerda do rio Ave onde hoje se situam os estaleiros. "É um projeto de grande dimensão. Seria bom, mesmo a nível nacional. A câmara tem estado muito ativa nisso, mas não chega", aponta.

2 cutty sark model f.jpg

"Não é só a vontade do povo de Vila do Conde que irá mudar a construção naval. O país não incentiva a pesca. Fico triste por não haver apoios nem formação profissional para que a construção naval se mantenha. Há carpinteiros navais de Vila do Conde em todo o mundo, hoje menos, que estão a ficar velhos", aponta Bruno Barreto, que diz estar a viver uma experiência enriquecedora com a reparação da Shtandart. "O capitão Vladimir é uma pessoa muito culta, ele não veio para aqui ao acaso. Escolheu mesmo Vila do Conde. Sabia o que ia encontrar. E nós, portugueses, que temos a mania de que ensinamos tudo, estamos a aprender muito, falo por mim, com estes voluntários que nos ajudam."
É neste ponto de rejuvenescer a construção naval que Vladimir Numas insiste. Ontem em Azurara estavam 20 voluntários, na maioria russos (mas já receberam eslovenos, espanhóis, ingleses e outros) a ajudar. É o caso de Elena, 24 anos, licenciada em Oceoanografia. "Acabei de chegar e vou ficar um mês. Sempre estive ligada ao mar e é isso que quero. Fascina-me. Esta experiência é para aprender." No estaleiro têm uma cantina onde fazem a própria comida e dormem em apartamentos na cidade.
Quando, a 8 de abril, a Shtandart rumar a Lisboa para iniciar mais uma volta ao mundo, mais voluntários se juntam. "Navegamos com um máximo de 40 pessoas. No século XVIII iam 150. Aqui, quem vai a bordo tem tarefas, nem que seja lavar o chão", explica Vladimir Martus, enquanto aprova mais uma parte de trabalho concluído. Todo o material elétrico e moderno fica escondido. "A madeira tem de tapar tudo."

Com o czar Pedro, o Grande como "herói pessoal", um homem que "transformou a Rússia", Martus diz que não teve apoios estatais russos. "Isso deixa-nos como uns burocratas. Prefiro ser uma fundação privada que capta apoios, em todo o mundo." E não é só para fazer réplicas para expor. "O meu objetivo com o "Cutty Sark" é colocá-lo a navegar nas antigas rotas e transportar mesmo café, chá, tudo o que transportava. É possível e o mundo deve saber que os veleiros não são coisas do passado. São atuais e sustentáveis."»

in Diário de Notícias online

página oficial do Cutty Sark 2



publicado por cachinare às 12:42
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5 comentários:
De Anónimo a 12 de Abril de 2017 às 18:09
Pois é exactamente tal como acima se diz.
Depois de cerca de 4 meses em avultadas obras de reparação, ali nos Estaleiros de Barreto & Filhos - Azurara, ontem mesmo, aproveitando o Preia-mar da tarde, a fragata de guerra Shtandart, histórica réplica de um famoso navio russo mandado construir em 1703, por Pedro - O Grande, e agora sob o comando do grande "expert" na matéria Com. Vladimir Martus, zarpou da barra de Vila do Conde rumo ao também histórico porto de Cadiz, extremo sul de Espanha.
Como já tive oportunidade de lamentar algures, pena foi que sua partida tenha sido tão discretamente divulgada, nomeadamente nos orgãos de informação, limitando-se a pouco mais que os locais, os quais, dia a dia se vão limitando cada vez mais, a ser «a voz do dono» . . .
E quem não os quiser gramar?
Recorde-se o que era esta terra quando os estaleiros ainda eram desta banda. Quando havia aqueles lançamentos à agua de Barcos, sobretudo os de maiores dimensões, como as réplicas das Naus e Caravelas (tal como diz a canção), o povo saía à rua com a alegria que costumava ter.
E os inúmeros turistas, que de máquinas ao ombro não cessavam de filmar fotografar quanto lhes era dado observar?
Não é porque não tenhamos por cá os ditos «técnicos de turismo», etc., etc. mas a verdade é que se tal evento fosse na nossa vizinha Póvoa, o impacto era outro.
Lá isso era . . .


De Anónimo a 18 de Maio de 2021 às 17:13
Como corroborando o acima dito no último paragrafo, vejam-se quantas parangonas aconteceram nas Rádios, Jornais e Televisões, apenas para nos falarem acerca de uma Camisola de Lã . . .


De António Pinheiro a 13 de Julho de 2023 às 18:55
A fibra das pessoas começa por ver-se no nome, os que se escondem parece não terem fibra, mas têm "treta". A camisola de lã deve ter feito comichão, era lã grossa.
A visibilidade cultural entre estas duas terras que deviam ser irmãs, sempre foi diferente, a Póvoa sempre teve um brilho diferente, talvez porque os Poveiros tenham um NOME!
Saudações Poveiras.

Desculpem as outras pessoas, mas estava na hora do chá!


De Albino Gomes a 17 de Maio de 2017 às 17:44
....................COMEMORAÇÕES DO DIA DA MARINHA............

De 13 a 21 de Maio estão a decorrer em Vila do Conde e Póvoa de Varzim, as comemorações dos 700 anos da Marinha de Guerra Portuguesa, com várias Exposições, Concertos e outras actuações nas duas terras vizinhas.
- Hoje 17, ainda teremos uma conferência sobre os 700 anos da Marinha, no Diana-Bar.
- Dia 18, concerto pela Banda da Armada, no anfiteatro da Lota da Póvoa.
- Dia 19, concerto pela Banda da Armada, no Largo da Alfândega, junto à Nau quinhentista, Vila do Conde.
- Dia 20, programa «Mar Seguro», no Salão Paroquial de Caxinas/Poça da Barca-Vila do Conde.
- Dia 21, às 9 horas, Cerimónia Religiosa na Igreja do Senhor dos Navegantes.
Às 11 horas, Cerimónia Militar, seguindo-se o Desfile Naval que
percorrerá a Av. Infante D. Henrique, desde a Igreja Paroquial de Caxinas/Poça da Barca, até à Póvoa de Varzim.
Entretanto, na Alfândega Régia e no Cine Teatro Neiva de Vila do Conde; e no Passeio Alegre e Museu da Póvoa, continuam patentes Exposições relativas ao tema.

E posto isto, que siga a Marinha, com seus «marinheiros tão altaneiros, que serão sempre os primeiros na Terra e no Mar»...

NOTA . Visita recomendável, a não perder.


De Albino Gomes a 21 de Novembro de 2017 às 18:02
Tal como se fosse um «filho pródigo», 7 meses depois, tão discretamente como quando daqui zarpou, eis que hoje, 21 de Outubro, pelas 15,30 horas, demandou novamente a barra de Vila do Conde, a fragata Shtandart, magnífica réplica de uma outra do antigo Czar da Rússia, Pedro - O Grande.
Como de costume, é capitaneada por Vladimir Martus, bom conhecedor da ancestral construção naval dos estaleiros de Vila do Conde.


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