Sábado, 6 de Janeiro de 2024
Recuperação das pescas em Timor Leste.
 

 

«Um grupo de pescadores trabalha árduamente para puxar as suas redes das águas baixas junto à praia de Dili, capital de Timor Leste. “Depois do temporal da noite passada, não esperamos grande coisa”, diz Francisco Soares enquanto vislumbra a água. “Mas ainda assim estamos muito contentes e o Raymundo e o Horácio deram-nos uma grande ajuda para começar de novo.”

Os pescadores conhecem os dois voluntários das Nações Unidas, Raymundo Cawaling das Filipinas e Horácio dos Santos de Timor Leste desde 2001, quando estes dois conhecedores das pescas organizaram uma distribuição em larga escala de redes e equipamento de pesca doados por vários países.

Durante gerações, as comunidades costeiras dependeram de uma grande variedade de peixe como atum grande, peixe-voador, peixe dos corais entre outros que abundam ao longo dos 600 km da costa de Timor Leste. O Departamento das Pescas estima que cerca de metade dos 20.000 pescadores do país têm na pesca por exclusivo a sua fonte de nutrição e rendimentos.

90% da frota costeira de Timor Leste, aparelhos de pesca e estruturas costeiras foram destruídas durante o violento conflito que deflagrou entre oponentes e apoiantes da independência, após a grande maioria ter votado pela soberania a 30 de Agosto de 1999. Milhares de pessoas fugiriam do território.

 

 

Richard Mounsey, da Austrália, responsável pelo organismo Ambiente Marinho afirma que “estivemos à caça de dinheiro para atingir o nosso principal objectivo: ajudar os Timorenses a sustentarem-se por si próprios, restaurando-lhes o orgulho como pescadores. Eles não queriam arroz trazido em helicópteros, queriam sim os seus aparelhos de volta para irem de novo à pesca.”

Numa primeira fase de distribuição de redes, o resultado da pesca aumentou 60% em relação a 1997 – 1.600 toneladas por ano. Foram também montadas oficinas de construção naval e 18 Timorenses receberam treino de oficiais das pescas no Ministério da Agricultura e Pescas.

Como estado independente, Timor Leste viu crescer a sua zona de pesca de uma faixa de 3 milhas para 150 millhas a Sul e 15 milhas a Norte. Tal espera-se que atraia companhias de pesca às novas oportunidades oferecidas, mas com o devido controlo, pois os “abutres da pesca industrial mundial” são séria ameaça ao ambiente marinho. Outras ameaças são o ainda uso de explosivos, veneno e o corte de mangais, onde várias espécies de peixe se desenvolvem.»

 

Traduzido do original de Tarik Jasarevic - 06 de Augosto de 2002

imagem 2 - yeowatzu

 

Embora o artigo já seja bem antigo, permite ter uma ideia da área das pescas e sua importância no geograficamente longínquo Timor Leste. As imagens aqui colocadas mostram o mais comum barco de pesca utilizado no país, o “beiro”. O beiro é feito ou de um tronco único de árvore que é escavado até tomar a forma pretendida, ou de tábuas armadas para o efeito.

 

Um pouco sobre o Timor actual - O Livro das Contradisoens

 

 



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Quinta-feira, 21 de Setembro de 2023
Barcos no areal.

 

«A praia da Nazaré conta, a partir de hoje, com o regresso de mais uma embarcação de pesca tradicional ao areal.

Uma réplica da barca “Mimosa”, construída à exacta semelhança da original, vem juntar-se aos barcos da pesca do candil, da arte xávega e da lancha “Ilda” já patentes na praia, junto ao Porto de Turismo.

A “Mimosa” era uma barca auxiliar da traineira, que fazia o transporte do peixe desde a zona das antigas bóias, ao largo, e a praia, para onde era puxada por tracção. Aqui, o peixe era descarregado e transportado para a lota.

A recuperação da “Mimosa” insere-se num programa de preservação das antigas embarcações de pesca desenvolvido pela Câmara Municipal da Nazaré, em parceria com o Museu Etnográfico e Arqueológico Dr. Joaquim Manso.

No caso da “Mimosa”, não foi possível salvar a embarcação original, devido ao seu avançado estado de degradação. A réplica foi construída no estaleiro de António Luís Júnior, um dos poucos mestres de construção naval tradicional ainda no activo na Nazaré. Recorrendo às antigas técnicas, foi usada madeira de pinho manso (na roda e contra-roda de proa, cavername e peças curvas) e pinho bravo (no costado, cintas, forros e bancadas), proveniente da zona de Cós/Juncal. A barca “Mimosa” tem um peso aproximado de quatro toneladas, com 10.20m de comprimento, 3.3m de boca (largura) e 1.10m de pontal (altura).

Além das embarcações referidas, foi também alvo de recuperação a barca salva-vidas “Nossa Senhora dos Aflitos”, lançada simbolicamente ao mar pelo anterior presidente da República, Jorge Sampaio.

Preservar as antigas embarcações de pesca tradicional da Nazaré, devolver ao areal a memória dos barcos que outrora o povoavam e contribuir para a preservação da vocação marítima da cultura local, são os principais objectivos deste investimento da Câmara Municipal da Nazaré.»

 

via Câmara Municipal da Nazaré online - 2007

imagem Cancela de Saas

 

Um exemplo que eu gostaria muito de ver seguido por outros municípios, especialmente o de Vila do Conde e o da Póvoa de Varzim. Na parte de Vila do Conde cidade, era no areal das Caxinas que se varavam os muitos barcos de diversos tamanhos. Quanto à Póvoa cidade... tal já é impossível, pois o que resta do areal é ínfimo e desapropriado a receber barcos. Era uma vez a praia dos pescadores.

 



publicado por cachinare às 18:34
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Quinta-feira, 13 de Maio de 2021
O barco salva-vidas – Origens.

São várias as comunidades que se afirmam como o local onde o primeiro barco salva-vidas surgiu, incluindo Bamburgh (Inglaterra) com o trabalho levado a cabo pela Fundação do Lord Crowe no auxílio a pessoas envolvidas em naufrágios. Realmente, Bamburgh pode afirmar ter possuído o primeiro posto salva-vidas, erigido em 1786. Contudo, mesmo esta afirmação é precedida por Liverpool, onde uma minuta da câmara datada de 5 de Março de 1777 se refere a um barco estacionado em Formby “preparado para ir buscar quaisquer pessoas naufragadas nos bancos”, presumindo-se estes serem os bancos de areia na foz do rio Mersey.

Ainda assim existe um enorme caso de prioridade a ser dada à afirmação em nome do rio Tyne, no nordeste da Inglaterra. Pode não ser o posto salva-vidas mais antigo, mas como aplicada e efectiva solução ao problema de salvamento de vidas no mar e ao seu impacto no resto deste país e de outros, os Salva-Vidas do rio Tyne podem orgulhosamente reclamar o primeiro lugar.
O Tyne era um rio extremamente movimentado nos anos 1780s, com um registo de tonelagem (cerca de 106.000 t) apenas superado pelo do rio Tamisa. Em 1787 cerca de 5.000 navios circularam no rio, dos quais 4.400 faziam cabotagem costeira.
A foz do rio Tyne era assim descrita por um capitão daqueles dias: “...a entrada para o porto é muito estreita, com rochedos perigosos de um lado e um longo banco de areia do outro e um baixio a atravessá-lo, onde as ondas frequentemente são enormes...”.
Em 1789, um grupo de homens de negócios que trabalhavam na área marítima, especialmente no comércio do carvão, juntou-se e estableceu-se numa pequena elevação de terreno mesmo à entrada do rio. Um dos membros deste grupo era Nicholas Fairles, o qual por várias vezes havia sido contactado pela comunidade marítima local para que fizesse algo de modo a prestar auxílio às tripulações dos frequentes naufrágios na foz do rio.
A 14 de Março de 1789, o brigue “Adventure” naufragou no banco Herd, apenas a 45 metros da costa e 8 dos seus 13 tripulantes pereceram. Este triste drama foi presenciado por centenas de pessoas em ambos os lados da entrada do porto. Pouco podiam ajudar, e os “cobles” locais (foto 2), que lidavam bem com mar mexido, nessa ocasião pouco podiam contra a ondulação. O impacto deste naufrágio, junto com outros dois no mesmo dia e no mesmo banco de areia, foi catalisador na comunidade local, mas particularmente em Nicholas Fairles para que algo se fizesse contra os perigos da foz do rio. Fairles discutiu o assunto com colegas de negócios e um comité foi formado. Determinaram criar uma instituição para a “Preservação das Vidas de Naufrágios”, com Fairles à cabeça.
O comité colocou um anúncio no Newcastle Courant num sábado, 16 de Maio de 1789, oferecendo uma recompensa de 2 guinéus a quem apresentasse um plano (aprovado pelo comité) “de um barco capaz de levar 24 pessoas e julgado capaz de singrar através de mar muito vivo – a sua intenção é preservar as vidas de marinheiros de navios que dão à costa em fortes temporais e ventos”. A 10 de Junho, em reunião, várias propostas estavam na mesa, mas apenas 2 foram aceites. Uma vez que nenhuma das duas era inteiramente satisfatória, a decisão atrasou-se em cerca de 5 semanas, quando as propostas de William Wouldhave e Henry Gatehead foram reconsideradas. Como o prémio de 2 guinéus não era considerado “generoso”, mesmo naqueles dias, William Wouldhave mostrava-se ofendido por ter sido recompensado com apenas 1 guinéu, quase como consolação. Recusou então o dinheiro, afirmando que a sua proposta seria a melhor. Wouldhave realmente apresentara um desenho inovador que respondia à maioria das necessidades de um salva-vidas em mau tempo. Contudo, o comité considerou que necessitava de vários melhoramentos e assim optou pela proposta de Gatehead, procedendo este à construção indicada pelos patrocinadores.
Conhecido apenas como o “Original” as linhas desse barco podem ser vistas no plano (foto 1) contemporâneo. Características chave, são a quilha curva, a cintura externa em cortiça e os flutuadores internos também em cortiça. Embora a discussão se mantenha sobre de quem era o desenho realmente por trás do barco, a forma resultante foi considerada por profissionais locais como contendo características de três tipos de barcos separados: O topo/convés de um barco de pesca do Mar Báltico, proa e popa de um “yawl” da Noruega e o fundo do casco de um coble de Shields – com a quilha curvada. O barco na foto 3, esteve ao serviço em Redcar entre 1801-1880, salvando centenas de vidas. Foi preservado até hoje e pode-se notar a similaridade ao plano referido.
 
Adaptado do texto de Jeff Morris – Cullercoats Lifeboat Station.
Imagens, da mesma fonte.

 



publicado por cachinare às 16:30
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Quarta-feira, 5 de Agosto de 2020
O Naufrágio do Salsinha - 15-11-1907.

«A morte é, infelizmente, às vezes, a senhora dos navegantes. Dos homens, diz-se que "há os vivos, os mortos, e os que andam no Mar". Se este dito popular for verdadeiro (e é...), difícil deve ser andar lá no Mar, alguma vez, muito tempo, em longas viagens (de que se espera voltar um dia), mas certamente muito mais difícil - mais heróico, mais duro, mais sobre-humano (quotidianamente heróico, duro e sobre-humano...) - deve ser andar lá sempre, dia após dia, todos os dias, durante a vida inteira. Cada dia, no intervalo das noites dormidas na praia, onde sempre ecoa, noite após noite, todas as noites, "a voz imensa, o lamento eterno...". Viver, assim, é viver quotidianamente, dia após dia, entre o Mar e a vida.

Os pescadores do litoral português são os verdadeiros "heróis do mar" num país que, infelizmente, sempre mais e mais os foi esquecendo e desprezando, e sempre mais e mais os foi abandonando (na maior provação e pobreza), ao mesmo tempo que, nesse mesmo país, sempre mais e mais foram sendo oficiadas as bizantinas e académicas liturgias de "comemoração dos Descobrimentos" e de glorificação das míticas "grandezas imperiais do Passado" (grandezas que, na verdade, nunca existiram). Um país pobre (em que os pescadores sempre foram os mais pobres dos pobres) cujas elites sempre dissiparam improdutivamente a riqueza em celebrações sumptuários e em retóricas bizantinas, e que, por isso mesmo, continuou tão pobre como sempre.
Um país em que, infelizmente, tudo o que autenticamente tem a ver com o Mar e com a Herança Marítima - e aí incluem-se sobretudo os barcos e os homens (a arquitectura naval tradicional e a experiência humana acumulada) - sempre foi sendo cada vez mais e mais abandonado, e assim votado à decadência, à extinção, à miséria e à emigração. E, no entanto, seria tão importante (e tão interessante) estudá-lo... desde Viana à Nazaré, desde Vila do Conde a Peniche, desde o Furadouro a Lavos, desde o Porto a Aveiro, desde Buarcos à Vieira, etc...
Devemos neste momento saudar a publicação de um novo livro - e, agora, um livro especialmente dedicado às matérias da História Marítima local - saído da pena do excelente investigador, competente, probo e honesto, que é Hermínio de Freitas Nunes. Esta é uma obra que, tal como as anteriores do mesmo Autor, fala por si mesma. Aqui fica agora bem patente uma rigorosa utilização da terminologia técnica adequada, um seguro domínio das fontes históricas, quer arquivísticas, quer narrativas, quer jornalísticas (fontes trabalhosamente compulsadas, seriadas e analisadas), bem como uma brilhante capacidade de síntese histórica (síntese breve, concisa, cronológica, compreensiva e problematizada). Neste mundo, as boas obras, na sua (aparente) simplicidade, falam sempre por si mesmas (e o inverso também é verdade). Muito além, e acima, de todos os pedantismos pseudo-intelectuais e de todos os folclores que aspirem ao academismo (e para isso usem palavras caras e conceitos abstractos).
Tomaram muitos centros de investigação académicos e universitários - e sobretudo no estado em que em Portugal infelizmente se encontram hoje em dia tantos Centros e Universidades... - contar entre os seus membros do corpo de docentes ou de investigadores alguém como o Autor deste livro... o mesmo Autor, de resto, que já antes havia produzido tantos e tão bons estudos de História Local, História Económica Social, História das Ideias e Mentalidades acerca das regiões de Leiria e da Marinha Grande (acerca do seu património industrial e cultural, dos seus movimentos operários, das suas igrejas, etc.).
Especialistas e eruditos locais como Hermínio de Freitas Nunes, mais do que como discentes, são sobretudo necessários, como docentes ou investigadores, em quaisquer escolas que de facto queiram sair de si próprias e ser capazes de estudar algo mais do que o seu próprio umbigo (e é também isso que distingue as escolas).
Que pode haver, de resto, mais interessante do que a história de homens verdadeiros - homens corajosos - que é a história dos pescadores...?
Esta é uma investigação original, de arquivo, dedicada ao levantamento e publicação da documentação referente ao maior de todos os naufrágios da Praia da Vieira: o trágico episódio de 1907 que deixou no desamparo dezenas de famílias dos mais pobres pescadores locais. Agora, o Autor deste livro reuniu, e incluiu no seu anexo documental, a documentação apropriada, nomeadamente a correspondência e as contas, quer das receitas obtidas pela comissão presidida pelo diligente padre José Ferreira de Lacerda, quer das despesas efectuadas pelo mesmo pároco da Vieira que se notabilizou no esforço para ajudar as famílias dos náufragos. E esta parece ser, também, infelizmente, uma história muito portuguesa, quando se conclui que uma parte do subsídio enviado pelo governo de então parece nunca ter chegado a ser efectivamente entregue à comissão de socorro às famílias. E, quanto ao valor angariado pelo sarau de gala de solidariedade que também foi promovido, constata-se que quase metade de tal valor serviu para pagar as respectivas despesas de tal gala, incluindo comidas e garrafas de vinho fino.
Hermínio de Freitas Nunes quis agora dedicar as páginas deste seu livro àqueles que verdadeiramente as mereciam: os pobres mas valentes pescadores da Vieira, que a fome obrigou a ir ao mar em pleno Novembro, no dia 15 desse mês de Inverno...
 
Este livro é uma lição de História: por isso é tão inspirador, e tão emocionante. Fazemos votos de que a sua leitura, para os futuros leitores, seja tão motivadora quanto o foi agora para o signatário deste prefácio (o qual, de resto, desde há muito quer andar cada vez mais distante da História oficial e dos respectivos historiadores, e próximo dos pescadores).
É para isto que, na verdade, deve servir a História autêntica. Por isso, é não só um prazer, mas também uma honra, prefaciar uma obra como esta.
Hermínio de Freitas Nunes é um verdadeiro historiador que, agora, para além do estudo da tragédia de 1907, nos dá também o levantamento e a publicação dos documentos anteriores do Arquivo Distrital de Leiria e da Capitania da Nazaré referentes às companhas, aos barcos e aos pescadores da Vieira, com a reconstituição de tais companhas e dos homens que as integravam. A partir de agora, já lhes sabemos os nomes e a cor dos olhos. Ficámos, para sempre, a conhecer os barcos e os homens da Vieira ao longo do século XIX, desde as suas mais antigas referências.
Há alguns meses, durante as VI Jornadas Culturais da Gandara, na Praia de Mira, em Março de 2008 (onde a comunicação apresentada por Hermínio de Freitas Nunes já constituiu uma versão preliminar deste estudo, e foi uma das comunicações mais valiosas e apreciadas), o signatário deste prefácio, na sua própria comunicação, havia reiterado a sua expressão de que o Barco do Mar do litoral centro de Portugal é "o mais belo barco do Mundo"... (e, na mesma ocasião, o nosso Amigo Professor Fernando Alonso Romero, o druida da memória da Galiza, pela sua parte, chamou-lhe "a embarcação mais interessante da Europa"). Não são excessivas essas apreciações quando aplicados ao também chamado Saveiro, Varino, Barco da Arte, ou "Meia-Lua", do Furadouro à Torreira, da Vagueira a Mira, de Lavos à Vieira. Agora, o competente investigador e erudito local que é o nosso Amigo Hermínio de Freitas Nunes adopta essa nossa designação de "o mais belo barco do Mundo", nesta obra em que deixa para o Futuro uma investigação histórica criteriosa e um estudo fundamental, no que diz respeito à Praia da Vieira e aos litorais de Leiria, desse belo barco e dos homens corajosos que outrora o tripularam.
Esses homens do século XIX e dos inícios do século XX morreram (como todos os homens vão morrer um dia), e as suas casas e os seus barcos apodreceram ou arderam (como tudo vai apodrecer ou arder um dia). Mas lá continua, ao som da voz imensa, o barco descendente dos seus barcos... tripulado pelos descendentes desses mesmos homens...
Um historiador, agora - passados hoje cento e um anos... -, ajudou a que tudo isso sobreviva para o Futuro. É para isto que serve a História.»
 
Alfredo Pinheiro Marques
Director do Centro de Estudos do Mar - CEMAR
15 de Novembro de 2008
 
«Na sexta-feira do dia 15 de Novembro de 1907, a embarcação conhecida como “Salsinha”, da companha de Manuel da Silva Sapateiro, virou-se ao ser varrido por uma onda quando tentava sair do mar, provocando a morte de 13 pescadores e ferindo cerca de uma dezena.
A descrição do acidente marítimo é relatada por Francisco Oneto Nunes, na obra “Vieira de Leiria – A História, O Trabalho, A Cultura”, que lembra as palavras do escritor vieirense António Vitorino sobre o assunto. É referida a tensão “quando os homens dentro do barco se apercebem de que estão à beira do desastre, sempre seguidos na sua angústia por aqueles outros que estão em terra sem lhes poderem acudir”. 
Enquanto uns caíram ao mar com o impulso da onda e nadaram, outros ficaram presos no barco abalroado e morreram, fazendo com que este trágico acidente fosse perpetuado, pelos piores motivos, na memória da população de Vieira de Leiria.
Os funerais foram impressionantes manifestações de dor, as fábricas pararam, o comércio fechou e Vieira de Leiria tornou-se pequena para acolher todos quantos quiseram marcar presença nas cerimónias.
 
As 13 vítimas mortais do naufrágio foram:
 
António Mouco Letra Novo - 26 anos
António Rego - 33 anos
Epifânio Tomás - 60 anos
Joaquim Xarana - 37 anos
José Bonifácio - 20 anos
José da Silva Alfaiate - 46 anos
José Mouco - 36 anos
José Pinheiro - 55 anos
José Tocha – 25 anos
Luís Bonifácio - 60 anos
Manuel Botas Pedrosa - 25 anos
Manuel Rego - 19 anos
Reinaldo Lobo - 26 anos .»
 
in CyberJornal.
foto 2 – José Fernandes.
 
Como comentário, pego no pequeno parágrafo do prefácio: “Fazemos votos de que a sua leitura, para os futuros leitores, seja tão motivadora quanto o foi agora para o signatário deste prefácio (o qual, de resto, desde há muito quer andar cada vez mais distante da História oficial e dos respectivos historiadores, e próximo dos pescadores).”
Ao que parece, o Sr. Alfredo Pinheiro Marques viu há muito o que os “simples” pescadores e a sua cultura podem também ensinar à “modernidade intelectual”. Mas eu sou suspeito para elevar o valor do universo dos pescadores... pois sou filho..., neto..., bisneto... .


publicado por cachinare às 14:09
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Sábado, 18 de Abril de 2020
Construtores Navais – Aprender com quem faz.

«A construção naval em madeira é, na Celebração da Cultura Costeira (EEAgrants) um tema partilhado por todos os territórios. Sendo um interesse trazido ao projecto pela Associação de Barcos do Norte – cuja problemática é a legislação sobre barcos tradicionais – a inventariação destes conhecimentos tem-se feito nas restantes áreas, porém mais intensamente na deste parceiro e na Cooperativa Porto de Abrigo (Açores).

 

Maria do Céu Baptista e Luís Martins
Coordenação do CCC 
 
O texto que se segue dá luz a uma fracção desta recolha – junto de construtores da ilha de São Miguel e de um mestre dos estaleiros Mónica de Vila do Conde – realçando em simultâneo um simbolismo do nosso programa de formação e estudo: são os protagonistas do património local que têm a voz na divulgação das suas tecnologias. Procuramos desocultar o testemunho silencioso, tal como achamos importante descobrir o ecossistema e a árvore por detrás do barco.
 
DA ÁRVORE E DE TODAS AS PEÇAS SE FAZEM O BARCO E O ARTESÃO
 
Uma árvore como a acácia corta-se ao cair da folha (Outono e Inverno). Na força da rebentação está muito viçosa e a madeira empena. Na secagem deve manter cerca de 15% da humidade, para ter alguma viscosidade. Faces demasiado húmidas quando juntas crespam e apodrecem em poucos meses. É nos solos pobres que aparecem as árvores de madeira mais dura. As que dão a madeira torta para as peças curvas crescem nas escarpas e nos espaços das grotas, enquanto na mata limpa se cortam as de fio direito para as restantes peças.
É costume fazer a analogia entre o barco e o corpo humano (coluna vertebral e vértebras). Talvez por isso se diga que a sua resistência começa na quilha e no cavername. Contudo, Paulino França e António Melo dizem que o importante é o conjunto, da cavilha ao forro, porque o objectivo do calafate é evitar que a água entre no barco – contribuindo para isso as peças todas (enquanto, por exemplo, a do tanoeiro, bem distinta, é impedir a saída do líquido.
Vê-se que a sabedoria popular não se constitui de ideias uniformes. Mas há mestres que são referências locais. Por exemplo, os actuais construtores de Rabo de Peixe (Açores) aprenderam todos com Manuel Cesta. Pai de José Francisco, foi também patrão de Gabriel Costa e José Pimenta, e de um pescador, Leonardo, que constrói e conserta embarcações. O primeiro herdou a oficina. José Pimenta fez em 1991, aos 17 anos, o primeiro barco quando trabalhava nela, e abriu o seu estaleiro em 2004. Gabriel Costa estabeleceu-se nos finais de 1980s, tendo frequentado o de mestre Cesta desde os 16 anos, onde se iniciou em tarefas que eles não queriam fazer, como pegar uma ferramenta, limpar os barcos por dentro, ir buscar uma enxó.
António Costa, carpinteiro dos estaleiros Mónica em Vila do Conde, começou a trabalhar com dez anos e aprendeu metendo-se aos poucos: ajudou numa e noutra acção, e diz que depende de cada um encaixar o que vê e lhe dizem. Fez o primeiro exame aos 18 anos para passar à 4ª categoria, num exame feito por mestres do Sindicato, onde apresentou as ferramentas que comprara para o ofício – formões, serrote, martelo, compasso, sutas e uma enxó – e respondeu à questão sobre como, de um rolo, tirar um tento e fazer a linha para alinhar uma peça para um barco. Visto já riscar cavernas com o filho do patrão, disse que andava a galibar – passar de umas grades para o desenho das cavernas, para depois fazer-se estas – e foi-lhe fácil dar a solução. Ao longo da carreira fez ainda exames até à 1a categoria.
Paulino França começou a trabalhar na construção naval em 1981 em estaleiros de Ponta Delgada. Primeiro na SOFOPEL, mais tarde na NAVEL. Para se entreter fez nessa época um barco no quarto onde morava em Vila Franca do Campo. À luz de um petromax. Foi mediante a declaração de uma destas firmas, dando-o como habilitado, que a Capitania lhe passou a carteira profissional de carpinteiro calafate. Em 2004 ergueu o barracão onde está o estaleiro para nele construir um barco de onze metros e trinta, trabalhando os calafates desse porto até então a céu aberto.
Em São Miguel a palavra estaleiro designa também o conjunto de toros que escoram o barco sob a quilha, chamando-se bancada a cada toro. De lado, à medida que a construção evolui, colocam-se uns puntaletes para as balizas não mexerem. Ao longo do costado e em filas paralelas fixam-se varetas de metal, a fim de desempolar o barco, isto é, para o forro ficar direito. Antes usavam-se fasquias, de pinho resinoso, que aguentavam o sol e não entortavam.
 
INOVAÇÃO, DIVERSIDADE E UNIDADE DA LINGUAGEM
 
Brincando com a filha na banheira onde tomava banho, José Pimenta diz que notou que o barquinho que lhe oferecera no aniversário se reflectia na água. Lembrou-se de encostar uma maquete a um espelho e observou que os pequenos defeitos no semi-casco ficavam mais nítidos. Todos os construtores com quem falámos aplicam esta técnica para verificar as linhas do costado, a curvatura da proa, as linhas de água. António Melo, que a define como um truque para ver os dois lados, já tinha observado o pai a usá-la como carpinteiro de uma empresa de atuneiros.
Todo o conhecimento vem por herança, e é inovado porque se procura. O velho Cesta fazia os barcos a gosto. Quer dizer que não os construía segundo um plano. Falava com os donos e, a partir dos moldes dos já construídos, introduzia as alterações combinadas. Os seus aprendizes assimilaram esta prática de trabalhar madeira, cortar, limpar, planar. O interesse de Gabriel Costa levou-o a observar mestre Aldeia (José Evangelista Aldeia, de Sesimbra), que em Ponta Delgada trabalhava de uma maneira muito diferente. José Evangelista, riscando em estrados, fazia linhas que ele não entendia. Aprendeu assim como é que se risca, como é que se faz. Diz que cada um deles lhe passou metade do que pretendia aprender. O resto descobriu em experiências que foi efectuando. Por sua vez Paulino França e António Melo dizem que a construção começa com o barco em geometria: o seu desenho no estrado, apoiado num cavalete, onde parece que não é o barco, mas é. Daqui passa-se para uma maquete, que consideram o verdadeiro barco, pois qualquer defeito que tenha passa ao ponto superior.
Construída a embarcação, mesmo Gabriel Costa, que não gosta muito do mar, embarca nela para verificar o seu comportamento: como navega e pára, o desempolamento das amuras, se ele se mete muito. Porque as entradas de água é que definem a qualidade da construção: deve levantar-se e ao mesmo tempo entrar na água e lançá-la para os lados. Se assentar ao meio, vai entrar na água da parte de trás e de proa levantada. Assim, em movimento bate como se andasse sobre uma superfície dura. Para evitar essas situações é preciso, diz, saber a prática e a teoria, isto é, o trabalho da madeira e o risco. Em consequência, não reconhece como construtores os profissionais da pesca que se dedicam à construção. Por exemplo, o Leonardo em Rabo de Peixe, antigo artesão no estaleiro de mestre Cesta, que faz e conserta embarcações para os mais chegados, alugando as ferramentas que precisa aos estaleiros em actividade.
Em qualquer caso um barco nasce com quilha, couce, cadaste – que a gente chama pá da luva – painel, roda de proa, contra-roda de proa, onde se vira o tabuado. Relativamente ao continente, diz António Melo que em São Miguel designam a primeira tábua por cinta, e no continente falca. O que nas ilhas chamam tábua do alefriz, no continente chamam resbordo. Às restantes tábuas – da cinta à tábua do alefriz – dá-se o nome de costado. Os outros termos são idênticos. Nas embarcações de boca aberta os dormentes são um reforço da embarcação, onde assentam as bancadas. Nos outros barcos os dormentes mantêm-se como reforço, e o convés assenta em vaus.
Através de entrevistas procuramos dar conta desta unidade e diversidade dos conhecimentos e práticas dos construtores navais. Julgamos que fica evidente a grande riqueza destas pessoas, que se predispõem a falar da sua profissão e de como se formaram no exercício dos trabalhos. Não sabemos se conseguimos dizer muita coisa em pouco espaço. Mas percebe-se por este pequeno exercício a imensa riqueza do saber do artesão naval.»
 
in site oficial Mútua dos Pescadores.
Foto 1 – José Branco Carvalho
Foto 2 – graminho piratealx
Foto 3 – construção de um barco Rabelo - Sinalvideo – A Cidade Surpreendente


publicado por cachinare às 10:44
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Quarta-feira, 4 de Dezembro de 2019
As companhas poveiras de Lourenço Marques - Moçambique.

«A maioria desses lobos do mar reside e trabalha em Lourenço Marques. Durante os breves dias que estive na grandiosa capital de Moçambique procurei, por isso, encontrá-los e trocar com eles algumas impressões.

Na cidade toda a gente conhece a “casa dos poveiros”, à rua Engenheiro Lapa, atrás da Capitania. Os meus conterrâneos são populares e o edifício, por seu turno, é dos mais antigos da povoação. Trata-se duma velha moradia, alta e de paredes caiadas de amarelo, colocada próximo da imponente sede do jornal “Notícias”.
Felizmente que se encontravam em casa bastantes poveiros quando lá fui. Seria meio-dia. No cimo da escada, um pescador fazia a barba ao outro, já idoso. Declarei a minha identidade e o fim ao que vinha – para os cumprimentar e conversarmos um bocado. Logo a “operação” terminou e se aproximaram mais caras sorridentes, que reflectiam almas francas em corpos fortes e rudes.
Cerca duma hora estivemos em alegre convívio, e estes sessenta minutos representam, sem dúvida, um dos mais perduráveis momentos da minha sugestiva excursão.
Vivem em Lourenço Marques perto de 60 pescadores poveiros, distribuídos igualmente por três “companhas”, cada uma com a sua traineira: a “Luz Divina”, a “Esperança” e a “Gabriel Teixeira” (nome do actual e querido Governador Geral da Colónia), de que são os verdadeiros donos, labutam eles quase diáriamente. E após três ou quatro anos de ausência vão até à Póvoa descansar os corpos, ver as famílias, enquanto os navios sofrem as indispensáveis reparações. Por tal motivo, uma companha tinha partido para o Continente havia dias, no “Pátria”. Mas em breve outra chegaria para a substituir.
Remonta a 1921 o ano em que os poveiros começaram a vir pescar para as costas de Lourenço Marques, e alguns lobos do mar desse primeiro grupo ainda por cá mourejam, tendo ido, no entanto, várias ocasiões à terra natal.
Como marítimos, os poveiros gozam na cidade de grande consideração, conforme me disseram várias pessoas. São os únicos pescadores que se atrevem a saír a barra e a colher, no mar alto, o pargo e outros peixes. Depois dos poveiros estão os gregos, os quais porém, nunca se aventuram a ultrapassar a baía.
A sua vida decorre ordinariamente nas traineiras. Quando as demoras em terra têm maior duração, vão até casa, autêntica república democrática, onde não existem distinções e onde, durante um mês, cada um se encarrega, sucessivamente, duma tarefa: este, das compras, aquele, da cozinha, outro, do peixe, etc.. O mestre comanda a faina de bordo e toma a seu cargo as contas. É igual para todos a simplicidade dos quartos, apenas com as camas, as arcas, uma mesa, e mil objectos pendurados nas paredes, de vigas a descoberto. Uns aos outros de ajudam nos seus trabalhos e dificuldades. Segundo contaram, o “Porquinho”, conhecido fígaro do bairro da Lapa da Póvoa de Varzim, pensou um dia em establecer-se em Lourenço Marques, a fim de pôr o seu ofício à disposição dos pescadores residentes na capital. Desistiu, contudo, ao saber que eles estavam habituados a cortar o cabelo e a fazer a barba recíprocamente, conforme, aliás, eu observei!
Perguntei-lhes se não gostariam de ter em Lourenço Marques um bairro só para pescadores da Póvoa, uma vez que eram tantos. Tal oferta já lhes havia sido feita – responderam – com a condição de trazerem as famílias para a África. Mas eles parece preferirem viver sózinhos, em camaradagem. “A vida passa-se quase toda a bordo; não vale a pena”. Além disso “a mulher está velha...” – disseram-me, explicando-se. Os novos, porém, acalentam esse sonho, como depreendi de algumas das suas frases. Seria na verdade interessante e compensadora uma realização desse género.
Para já os meus conterrâneos contam com o carinho do público, que os admira e respeita, e com a gentileza das autoridades da Capitania, muito suas amigas e atenciosas. E a assistência médica, gratuíta, agrada completamente.
Quanto ao amor pela terra-mãe, conserva-se bem vivo nos seus espíritos, o mesmo sucedendo no que respeita às tradições folclóricas da Póvoa. O traje usado na praia de Varzim mantem-se no porto de Lourenço Marques; a mesma camisa axadrezada, o boné de pala e a boina, as calças enfiadas nas botas de borracha ou descidas até aos socos. Nas paredes dos quartos, ao lado de fotografias de entes queridos, vi igualmente gravuras das imagens veneradas na igreja da Lapa. Por coincidência, no dia seguinte ao da minha visita, 25 de Setembro, festejava-se na Póvoa o Senhor dos Aflitos. Pois a data não foi esquecida entre os pescadores varzinenses de Lourenço Marques, realizando na traineira “Esperança” um almoço de arromba, precedido de cerimónias religiosas num dos templos da capital.
 
do Boletim Geral das Colónias nº 301 – Vol. XXVI, 1950, pags. 177,178
publicado no Diário do Norte, Porto, por Flávio Gonçalves.
 
As fotos que coloquei a ilustrar foram o primeiro passo para ter chegado a este artigo de Flávio Gonçalves. Curiosamente, estes barcos são da Ilha de Moçambique, muito longe de Maputo, onde este texto se centra. Imediatamente estes barcos revelam o passado poveiro em Moçambique, na forma como alguns deles estão pintados. O nome pintado ao centro de uma larga lista, bordeada por duas linhas finas de outra côr a todo o comprimento do barco, e o restante do barco ainda noutra côr, é tipicamente poveiro, desde pelo menos inícios do séc. XX.
A não ser que poveiros também se tenham fixado na Ilha de Moçambique, que fica a 600 km de Maputo, (o texto de facto inicia-se com “A maioria desses lobos do mar reside e trabalha em Lourenço Marques.”) este modo de decoração poveira denota a profunda influência (e seu modo de pescar) que os poveiros da antiga Lourenço Marques terão deixado na população piscatória nativa.
Sendo as costas de Moçambique influenciadas por comerciantes árabes longo tempo antes da presença portuguesa no séc. XVI, essa vertente está também muito presente na maioria dos barcos moçambicanos de hoje e nas suas velas, puramente latinas, mas repare-se no detalhe da vela da primeira foto... ligeiramente cortada junto da proa. Algo também típico dos barcos poveiros e suas velas de pendão de amurar à proa.
Mais uma vez se comprova que através dos barcos, sua tipologia e características também se chega às andanças dos homens, neste caso nas ex-colónias portuguesas e Brasil, Goa, Angola, etc, têm ainda muito desse passado a navegar.


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Quinta-feira, 9 de Novembro de 2017
A Gamela de A Guarda – Galiza.

 

A Gamela de A Guarda na Galiza, é uma das embarcações mais antigas que se conhece nesta região das Rias Baixas, sendo provavelmente o barco de mais fácil construção e menor custo na vertente tradicional. De tamanho considerável e formas primitivas, destaca-se a facilidade com que é varada para o areal ou puxada para o mar. Compreendendo cerca de 5 metros de comprimento e boca de 2 metros, eram construídas inteiramente em madeira de pinho, a qual na actualidade foi substituída pelo contraplacado marítimo. Sem cavernas, incluem 3 bancos e carlinga para o mastro, chamaceiras para até 6 remos e vela do tipo bastarda ou poveira.

Tradicionalmente, eram pintadas com uma mistura de 14 quilos de breu, 2 de alcatrão, 1 litro de óleo de sardinha e 2 quilos de polvo vermelho. Dando-se a mistura por dentro e por fora da embarcação, esta era a receita da antiga querena, sendo por isso o tom geral da mesma o vermelho que é possível ver nas fotos.
Nos tempos actuais, são pintadas de diversas cores e outros desenhos, perdendo-se deste modo as marcas tradicionais que se usavam nas suas popas. Usando agora um motor fora-de-borda que substituíu as velas e os remos, os pescadores actuais usam também um alador para facilitar o puxar das redes, o qual varia conforme a época e tipo de faina.
Esta embarcação restringe-se quase exclusivamente à comunidade de A Guarda.
 
fonte + fotos: modelismo naval. Inclúi diversas fotos desta embarcação.


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Segunda-feira, 14 de Novembro de 2016
Os Braços da Lancha.

os braços da lancha povoa de varzim

 



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Quinta-feira, 1 de Setembro de 2016
Comemorações dos 25 anos da Lancha Poveira "Fé em Deus".

25 anos lancha_cartaz_net

2º SEMINÁRIO “MAR, EDUCAÇÃO E PATRIMÓNIO”

Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, 30 de Setembro de 2016, entre as 14h00 e as 17h30

«Este seminário, que está integrado nas comemorações dos 25 anos da Lancha Poveira Fé em Deus, visa partilhar conhecimentos e experiências de bibliotecas, arquivos, museus e escolas e centros de investigação sobre património marítimo e cultura do mar.

Os temas desta edição são a memória, as literacias, a conservação e o acesso à informação na era digital, bem como o papel das escolas na formação de competências ligadas à preservação do património marítimo. Contaremos com os contributos de José Bastos Saldanha (Sociedade de Geografia de Lisboa), Manuela Barreto Nunes (Universidade Portucalense), Luís Martins (IELT/Universidade Nova de Lisboa), Fátima Claudino (Escolas Associadas da UNESCO), Ivone Magalhães (Museu de Esposende e Rede Nacional da Cultura dos Mares e dos Rios), Luísa Salgado (Professora), Ana Simão (Profª Bibliotecária/Escola E.B. 2-3 Dr. Flávio Gonçalves), Albina Maia (Profª Bibliotecária/Escola Secundária Rocha Peixoto) e Manuel Costa (Biblioteca Municipal Rocha Peixoto e projecto da Lancha Poveira).

Para aceder ao programa/lista dos oradores e registar a sua inscrição gratuita, consulte a página da Biblioteca Municipal Rocha Peixoto

Manuel Costa

cartaz seminario lancha_net final (1)

cartaz expo mestre agonia_net (1)



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Segunda-feira, 25 de Janeiro de 2016
Associação juvenil Açoriana recupera barco de pesca.

«Na pequena ilha de Santa Maria, Açores, extremo sudeste do arquipélago, pertencente ao Grupo Oriental, a AJISM - Associação Juvenil da Ilha de Santa Maria - desenvolve um trabalho meritório na dinamização e promoção de actividades com os jovens, lutando diariamente pela valorização da vida na sua ilha. Desenvolve actividades ligadas à cultura e à comunicação, ao desporto. Aposta nas tecnologias de informação e tem um Site na Internet actualizado frequentemente.

Um dos trabalhos desta associação tem sido a sua intervenção na preservação, recuperação e promoção do património marítimo açoreano, em particular das embarcações de pesca tradicionais. A embarcação “Mudança de Maré” - nome do projecto de desenvolvimento promovido pela Associação Marítima Açoreana (AMA), que contou com a participação da Mútua como parceira, entre outras organizações - é a menina dos olhos desta associação e é sobre ela que tem recaído grande parte desse trabalho patrimonial.
Passamos a transcrever um excerto de um convite enviado a diversas entidades, em nome da Associação, Luís Roque e da AMA, Liberato Fernandes, onde se conta um pouco desta história:
"Conta já com seis anos o processo de recuperação de uma peça significativa do maravilhoso espólio da Pesca Artesanal Açoriana – a embarcação “Mudança de Maré”. Neste período desenhamos e concebemos o projecto técnico para a recuperação do casco, estabilizamos e construímos  um casco novo sobre o original, o “Nossa Senhora das Mercês” - embarcação artesanal de pesca do chicharro de Rabo de Peixe datada dos anos 50 do séc. XX - e “sobrevivemos” ao interminável processo de licenciamento da obra, bem como aos vários desafios que este projecto foi tendo de enfrentar e ultrapassar.
Como todos os projectos que se propõem recuperar memória e em simultâneo inovar e criar, ao que se soma ser, neste caso e nesta área, um projecto pioneiro na região, sentimos testada a perseverança e a determinação para o levar a cada vez melhor porto. E com isso, muito aprendemos. Hoje, podemos afirmá-lo, o “Mudança de Maré” é peça de peso nesta perspectiva de reactivação do património marítimo açoriano desaparecido.
Este ano, após já variada experiência de navegação e melhoramentos no velame e navegabilidade, faz sentido um ainda maior alargamento e avaliação deste esforço. Para isso contamos convosco e decidimos deslocar a embarcação a São Miguel com esse objectivo.
É neste âmbito que a Associação convidou várias instituições a fazerem uma pequena viagem de barco, (duração máxima de duas horas), na costa sul da ilha de S. Miguel, com partida de Ponta Delgada. Além da apresentação do trabalho da Associação e da embarcação em si, a iniciativa pretendeu proporcionar momentos de discussão sobre aspectos do futuro deste tipo de património e das oportunidades que se encerram no património marítimo açoriano.”
Resta-nos desejar à AJISM e a todos os jovens (e também aos menos jovens!) de Santa Maria boa viagem a bordo do Mudança de Maré, sempre rumo a bom porto!»
 
In site oficial Mútua dos Pescadores.
 
«As comunidades piscatórias nos Açores são parte essencial da história do arquipélago desde o seu povoamento. As tradições e costumes destas comunidades ainda hoje mantêm contornos dos séculos XVI e XVII. No entanto, a modernidade penetra violentamente... com as reformas da Política Comum de Pescas da União Europeia, com os contornos de uma sociedade crescentemente tecnológica, com o estilo de vida de todos e todas a alterar-se a um ritmo acelerado. Neste contexto, facilmente se podem desagregar e perder as delicadas estruturas culturais das comunidades, somando aos vários problemas de desenvolvimento e pobreza, um ritmo de grande mudança e de exigentes adaptações. Estes factos, sempre associados à crescente, quase frenética, necessidade de evolução imposta pela sociedade moderna, representam um sério risco para a preservação de um património vasto e rico, que muitas vezes não encontra paralelo no resto da Europa e põe em causa cultura, tradição e saberes associados a esse património.
Face a este contexto,em 2002, a AJISM, em parceria com a AMA, apresentou a ideia e o projecto de recuperar uma embarcação tradicional da pesca artesanal açoriana, no âmbito do Projecto Mudança de Maré, financiado pela Iniciativa Comunitária EQUAL, procurando paralelamente recuperar também a navegação à vela com pano latino, utilizada por estas embarcações até à década de 70 do século XX.
Pensamos que a revitalização deste tipo de património pode ser importante para a preservação de uma memória cultural, colectiva, açoriana e portuguesa, de grande importância e em sérios riscos de desaparecer, sem deixar registo. Pensamos também poder contribuir com uma inovadora ferramenta de formação para o contexto da pesca açoriana, para a existência de um navio demonstrativo de alternativas sustentáveis para as comunidades piscatórias, que pode apoiar e desenvolver propostas para e com a comunidade, além de propor outra relação com a museulogia.»
 
In site oficial “Mudança de Maré”.
 
Fotos – AJISM – Mudança de Maré
 
Nesta última foto aqui mostrada, é possível ver o “Mudança de Maré” antes de ser restaurado, junto do belíssimo iate açoriano “Maria Eugénia” sobre o qual escrevi em 24-06-2008 e na altura os esforços para a recuperação deste iate estavam difíceis. Desconheço a partir daí o estado actual do processo de recuperação.
Felizmente ao seu lado, o “Mudança de Maré” é hoje um belo barco de pesca tradicional açoriana recuperado e a associação que o detém sabe muito bem o que ele representa, e o que se pode desenvolver a partir dele. É exactamente de mais associações, com este interesse e um carinho pelo passado e cultura naval que Portugal precisa. Já existem algumas e várias pessoas esforçam-se por dar corpo e unidade ao que já existe, mas não é fácil, devido a aspectos que vão da natureza legal até ao completo desinteresse de entidades responsáveis que deveriam financiar o desenvolvimento da cultura marítima costeira.
Há que continuar a trabalhar e acima de tudo procurar sempre novas vias e novas portas onde bater.


publicado por cachinare às 17:47
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Segunda-feira, 27 de Julho de 2015
A preto e branco.

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As imponentes proas das típicas barcas da Nazaré. E tudo o vento levou... . Foto de Artur Pastor.



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Sábado, 13 de Junho de 2015
Livro "A Masseira Ancorense".

convite MASSEIRA

 

 



publicado por cachinare às 22:52
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Terça-feira, 12 de Maio de 2015
A preto e branco.

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Duas pequenas catraias saem para a pesca na Póvoa de Varzim em 1953, muito possivelmente catraias de pescadores da “Favita”, o areal fronteiriço da Poça da Barca, já em administração de Vila do Conde. Foto de Artur Pastor.



publicado por cachinare às 23:53
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Segunda-feira, 27 de Abril de 2015
O bote polveiro – Galiza.

 

 

«Junto com a dorna, a gamela, a lancha de relinga e outras embarcações, o bote polveiro é um dos barcos tradicionais emblemáticos da costa da Galiza. O bote polveiro de Bueu é uma embarcação muito estável, forte e pesada, de casco redondo, a boca é metade do seu comprimento, baseando-se a sua morfologia, segundo S. Morling, na lancha de relinga. Representa pois bem o que eram as embarcações antigas daquela zona da Galiza. O seu comprimento ronda os quatro metros, é coberto em cerca de 1/3 e quase todos têm um viveiro ao centro. Também se faziam uns mais pequenos de três metros e meio e outros maiores que chegavam aos cinco metros e meio.

Existem registos que atestam a grande importância da apanha do polvo na Ría de Pontevedra desde meados do século XVI até meados do século XVIII, regulando-se as épocas de venda e as artes permitidas, demonstrando este bote total superioridade nas águas rochosas da ria.

Construía-se em madeira de carvalho (quilha, roda de proa, cadaste e cavernas) e pinho para o forro, bancos, cobertas e mastro. Os remos são como os da dorna, de duas peças e que se cruzam ao remar.»

 

via Modelismo Naval

 

O pequeno documentário acima mostra-nos o bote polveiro da Associação Amigos das Embarcacións Tradicionais "Os Galos", de Bueu. O seu presidente, Victor M. Domínguez Antas, mostra-nos na 1.ª pessoa o manobrar deste bote, quer a remos, quer à vela.

E as nossas catraias das Caxinas e Favita... onde andam?



publicado por cachinare às 22:23
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Terça-feira, 24 de Março de 2015
A preto e branco.

 

Pescadores de Sesimbra junto das suas bonitas barcas, ao que parece com enormes cabaças nas mãos, possivelmente para as usar como flutuadores nas artes de pesca. A barca “Severa” certamente retirou o nome do filme A Severa, de 1930, um filme de José Leitão de Barros, o primeiro filme sonoro produzido em Portugal e realizado por um português.



publicado por cachinare às 21:56
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Quarta-feira, 25 de Fevereiro de 2015
A preto e branco.

 

O pescador da costa Centro em todo o seu esplendor na forma como aborda a entrada no mar.



publicado por cachinare às 22:39
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