O lugre-patacho “Gazela Primeiro”, foi construído no estaleiro de J.M. Mendes em Setúbal e os seus primeiros registos, na sua forma actual, datam de 1902.
«A cerimónia de lançamento do livro “Marinha Portuguesa – Nove Séculos de História”, da autoria do Comandante José António Rodrigues Pereira, realizou-se no dia 27 de Outubro, pelas 19h00, no Pavilhão das Galeotas, no Museu de Marinha. Nesta cerimónia estiveram presentes o Presidente da Comissão de Defesa Nacional, Dr. José Luís Arnaut, o Secretário de Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar, Dr. Marcos Perestrello e o Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Fernando Melo Gomes.
Esta obra é o culminar de um processo de investigação iniciado pelo Comandante Rodrigues Pereira sobre a História da Marinha ao longo de nove séculos. Neste livro reúnem-se, pela primeira vez, os acontecimentos mais importantes da nossa história marítima e o que representam para Portugal.
Como refere o autor: “Hoje, como antes, o Mar permanece como elemento fundamental para o futuro do País. Assim foi no Século XX com a criação da ZEE, assim será no Século XXI com a concretização do projecto de alargamento da plataforma continental, sempre com a Marinha na nobre missão de garantir aos portugueses o uso do seu mar.
A História da Marinha é uma História de Portugal vista do mar porque não é possível dissociar o Mar dos acontecimentos fundamentais da História do país.”
O Comandante Rodrigues Pereira entrou para a Escola Naval a 01 de Setembro de 1966 e especializou-se em electrotecnia em 1971-72, durante o seu percurso na Marinha prestou serviço em diversas unidades navais e em terra. Passou à reserva por limite de idade em 2005 e desde 07 de Fevereiro de 2006 é Director do Museu de Marinha.»
via Marinha.pt
Nada melhor que um disfarce de sumo de laranja para enganar a pequenada e fornecer-lhes o tão “desgostoso” óleo de fígado de bacalhau. Curiosamente para mim esta opção tem o sentido oposto, pois gosto é do sabor fortíssimo a peixe que este óleo tem. Faz-me pensar se “no tempo dos velhos” os pais e avós também tinham artimanhas do género para fazer a “canalhada brava” tomá-lo ao engano. Nunca ouvi tal exemplo e se sempre ouvi falar deste óleo, foi pelo facto de fugirem dele a sete pés.
«José Pequeno, 53 anos, fez a primeira viagem para a Terra Nova em 1979, com 23 anos, numa altura em que o bacalhau começava a escassear e a mão-de-obra também. Até ao fim da Guerra Colonial, eram ainda muitos os que aproveitavam a legislação que permitia escapar à luta em África, substituindo o calor das savanas pelo frio da Terra Nova. Em 1979, porém, já não havia colónias para defender ou evitar. Substituíam-se os barcos de arrasto lateral pelos de arrasto de popa. "A pesca à linha estava a desaparecer", confirma Pequeno. Os barcos de madeira também. E o bacalhau que chegava à mesa dos portugueses vinha cada vez mais dos mares da Noruega.
A frota começava a ser reconvertida para outras espécies, o redfish e a palmeta, passando a congelar-se o peixe, em vez de o salgar. O baptismo do capitão Pequeno nos mares gelados do Canadá foi, de resto, para pescar redfish. A campanha durou dois meses. Nada a ver com a pesca de antigamente, pois. Mas foi, ainda assim, "muito marcante", assegura.
A viagem no Nossa Senhora da Vitória estava a parecer fácil, mas o regresso foi atribulado. Perto dos Açores, José Pequeno percebeu, enfim, o que era o mau tempo no mar. "O navio fez de submarino, esteve debaixo de água por causa do peso." E a tripulação, de nazarenos e poveiros, rendeu-se à fé. "Vi homens de barba rija ajoelhados a rezar", conta.
Em 1982, o capitão deixou o Santa Joana a arder na Terra Nova, perto do cabo Flemish, depois de um incêndio ter atingido a casa das máquinas. "Estivemos quatro horas nas balsas, à espera que chegasse ajuda. Dois moços estavam quase em hipotermia quando chegaram o Santa Cristina e o Senhora dos Mareantes. Estava 1 ou 2 graus, mas, com o vento, aquilo torna-se agreste."
Também em 1982, o capitão José Pequeno esteve perto do olho da tempestade perfeita que inspirou o filme The Perfect Storm, com George Clooney, Mark Wahlberg e Diane Lane. "Fomos para sul, para fugir, mas ainda apanhámos uma pequena amostra."
Noutra ocasião, o Nossa Senhora da Vitória esteve uma semana sob mau tempo, uma vaga partiu os vidros todos e arrancou uma balsa, e o barco, sem força para resistir, foi arrastado pelas correntes quase até aos EUA. "Demorámos oito dias para regressar ao pesqueiro e, pelo caminho, encontrámos a balsa que tínhamos perdido", conta José Pequeno.
Entre avarias, balizas partidas, lemes e hélices danificados, temperaturas que perto do Labrador chegam aos 25 graus negativos e movimentos furtivos do gelo, o capitão garante que o mar "também tem coisas boas" e que é "entusiasmante", apesar do Natal sempre passado fora de casa, porque é preciso chegar à Terra Nova no dia 1 de Janeiro, quando começam algumas quotas de pesca. "Fazemos como se estivéssemos em família. Pára tudo às seis da tarde, até às seis da manhã do dia 25." Vão pescar bacalhau e comem bacalhau. "Somos portugueses acima de tudo. Comemos bacalhau pelo menos uma vez por semana quando estamos a bordo. Com grão, é sagrado", sorri.
Aos 53 anos, o capitão José Pequeno conta andar mais dois anos no mar. "Não auguro grande futuro para isto", diz, sublinhando as dificuldades da pesca nos mares da Terra Nova. "Há alturas em que nem se consegue abrir os olhos com o frio. Os redeiros, quando é preciso reparar as redes, só conseguem estar lá fora cinco ou dez minutos e têm de fugir para dentro. Quando se leva um pato, com uma vaga, é preciso ir logo mudar de roupa, senão aquilo congela tudo. Noutras ocasiões, as redes ficam congeladas e, para recolhê-las, é preciso ir lá com a mangueira do vapor."
Depois, diz, "também há histórias muito bonitas, em terra". "Mas essas não se podem contar. Talvez um dia, nas minhas memórias."»
por Jorge Marmelo – in Público - 2/1/2010
imagem: bacalhoeiro "Nossa Senhora da Vitória"
«Vitorino Paulo Ramalheira é ilhavense como São Marcos e como a maioria dos capitães da pesca do bacalhau. A Avenida Mário Sacramento, em Ílhavo, ainda é conhecida como "a avenida dos capitães", embora actualmente só lá more João São Marcos, uma espécie de patriarca dos velhos lobos do mar do Norte. "Os outros já morreram todos", diz. Os pescadores eram sobretudo poveiros, das Caxinas, ou nazarenos. "O Vitorino, para mim, foi sempre um menino", diz o capitão São Marcos. Um menino com 80 anos de idade e que chega ao Museu Marítimo de Ílhavo com um sobretudo e um boné que faz lembrar o do capitão Haddock das aventuras de Tintim, mas com o mesmo olhar vivo de São Marcos.
Vitorino Paulo Ramalheira, o capitão Vitorino, também não tem saudades do mar. "Agora só se fosse para ir ver e comer aqueles petiscos", diz. Mas dificilmente podia ser mais diferente do capitão São Marcos. Recorda os "momentos muito amargos", passados "com o coração nas mãos", os naufrágios, os contratempos e as emoções, a "vida áspera e cheia de perigos", mas também os "momentos muito agradáveis" vividos nas campanhas às águas geladas da mítica ilha canadiana.
O capitão Vitorino foi pela primeira vez à Terra Nova em 1951, como terceiro piloto do Gil Eanes, o (primeiro) navio-hospital que apoiava a frota bacalhoeira portuguesa. Para além da assistência médica propriamente dita, o antigo navio alemão - nacionalizado no fim da Primeira Guerra Mundial, levava mantimentos, combustível, sal e água doce para abastecer a frota. "Saía daqui um mês depois e levava encomendas para os barcos, batatas e isco congelado, e também dava assistência religiosa. Tinha um capelão a bordo para dizer a missa e dar apoio moral aos doentes", recorda.
Filho de pescadores, Vitorino Ramalheira foi aconselhado pelo pai a manter-se afastado da pesca do bacalhau. "Nunca gostei de pescar, mas sim de andar à procura de peixe", diz, depois de contar a estranha atracção que a pesca do bacalhau exerceu sobre ele: "Um dia, no Gil Eanes, desci a bordo de um barco onde estavam a fazer a escala do peixe. O cheiro a sangue era indescritível. Aquilo entusiasmou-me."
Em 1952 embarcou como piloto no Elisabeth porque queria casar-se e se ganhava mais no bacalhau - "E nunca mais saí." Comandou depois várias escunas, com as suas quatro velas, muito elegantes, "como gaivotas". Em 1960 tornou-se capitão do Aviz e, cinco anos depois, viu-o arder como uma tocha nos mares da Terra Nova. "Havia muitas gambiarras para se poder pescar à noite e, sendo um barco de madeira, impregnado de óleos, pouco mais havia a fazer do que deixar arder. Felizmente era Setembro, não estava muito frio, o tempo estava bom, e não se perdeu ninguém", conta.
Não havia, nesses barcos, instrumentos que ajudassem a encontrar os cardumes de bacalhau e o sucesso da campanha dependia quase exclusivamente da intuição do comandante, da sorte e de alguma estratégia. O capitão Vitorino reunia todas e demonstrou-o logo na primeira viagem: "Os barcos à nossa volta estavam a fazer 30 ou 40 quintais [1800 ou 2400 quilos], eu fiz logo 180, o que é uma pesca magnífica. Disse, no rádio, que tinha feito 120, mas um tio meu que lá andava repreendeu-me e disse-me que, assim, os outros barcos iam todos pôr-se à minha volta."
Noutra ocasião, decidiu ir mais cedo ao porto de North Sydney abastecer-se da cavala que servia de isco. Seguiu logo para a Gronelândia e já tinha pescado à farta quando os outros barcos lá chegaram. "Era uma luta terrível. A competição entre os barcos eram acérrima", conta. "Quando não encontrávamos peixe, os pescadores até nos chamavam nomes."»
por Jorge Marmelo – in Público - 2/1/2010
imagem: bacalhoeiro "Aviz"
Um dos barcos tradicionais de pesca da Madeira, especificamente de Câmara de Lobos, o “xavelhas”, antigamente utilizado na pesca do peixe-espada preto. Uma embarcação extremamente interessante na sua tipologia, entre outras dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, mas sobre as quais a informação disponível é muito pouca.
Um navio, do tipo “clipper” em doca seca no ano de 1899. Encontra-se na doca de Limehouse, em Londres, Inglaterra e o seu nome na altura era “Ferreira”. Um nome perfeitamente português, pois ostentava bandeira portuguesa. É também um navio bastante afamado, pois originalmente era, e voltaria mais tarde a ser, o “Cutty Sark”. Durante 23 anos da sua carreira foi português.
A beira-mar no Japão de princípios do século XVII.
“Landscape, Japanese” - Toeki Unkoku
«História curiosa é aquela que conta Manuel Gonçalves Afonso, o chefe Afonso, que passou 23 anos no porão do Santo André, o arrastão que a Câmara de Ílhavo transformou em barco-museu e que o capitão São Marcos chegou a comandar. No início dos anos 80, recorda, o navio teve um piloto do sexo feminino, uma rapariga de Oeiras, destemida, que entrava nas lanchas e trabalhava juntamente com os pescadores da Terra Nova. "O comportamento dos homens era completamente diferente, não se ouvia uma asneira. Aquilo era uma santidade", recorda.
Um dia, porém, a regra teve a sua excepção. A tripulação desembarcou em Saint Jones, onde o Santo André fora reabastecer, e "um daqueles indivíduos para quem é sempre tudo muito fácil armou-se em engraçadinho". "Mas ela não deu hipóteses. Sabia fazer-se respeitar."
O chefe Afonso era responsável pelas máquinas do barco e conta como, às vezes, os pescadores iam para o porão aquecer-se um pouco. "Se lá fora estavam 30 graus negativos, cá dentro estavam 7 ou 8."
Encontrámo-lo no Santo André, onde o chefe Afonso está evidentemente em casa. Debita continuamente dados sobre o arrastão lateral. O nome dos motores, um Werkspoor holandês de 1700 cavalos, sobrealimentado, 265 rotações e passo variável, e um Lister Blackstone para o guincho das redes ("não há melhor do que isto"), as 400 toneladas de combustível com que o barco seguia para a Terra Nova, consumindo seis mil litros por dia, as 200 toneladas da aguada, as 600 toneladas de bacalhau que podiam ser transportadas no porão de salga... "Este é que era bacalhau bom, amanhado, salgado e prensadinho", comenta. "Agora o bacalhau é todo congelado e só é salgado quando chega a terra", lamenta.
A primeira viagem de Manuel Afonso para a Terra Nova foi em 1958. Tinha um trabalho diferente dos restantes: oito horas de serviço na casa das máquinas, excepto quando havia uma avaria e era preciso desmontar tudo e reparar. "Trabalha-se até acabar, 30 e tal horas seguidas sem comer", conta.
Nas águas frias onde o bacalhau habita, as condições são difíceis também para quem tem de tratar das máquinas. O gelo "enfarinhado" tapa os ralos de aspiração de água para a refrigeração dos motores e, por isso, "não havia mãos a medir". "Tínhamos de desentupir tudo de dez em dez minutos."
Os cabos das antenas congelavam e caíam. As placas de gelo sacrificavam as hélices e provocavam fugas de óleo. A água doce congelava nos reservatórios e era preciso racioná-la. "Só se podia tomar um banho por semana." Nos momentos piores, era preciso colocar bojões nas torneiras, para que não pudessem abrir-se. "Depois vieram os vaporizadores que dessalinizam a água do mar e mudou tudo", conta.
Lá fora, às vezes, levantavam-se grandes tempestades com ventos gelados de 200 quilómetros por hora e vagas que entravam no barco e encharcavam também a casa das máquinas. "Andava tudo aos trambolhões."
Entre 1965 e 1990, o chefe Afonso assistiu "quase todos os dias" a histórias que talvez valesse a pena contar - se fosse capaz de recordá-las. Mas lembra-se, isso sim, que as condições de trabalho na Terra Nova eram extremamente difíceis, ao ponto de alguém que saísse para a ponte ficar com as barbas congeladas. "Era tudo gelo, mas é no gelo que está o bacalhau. Muita gente come o bacalhau e não sabe o sacrifício que é pescá-lo", remata. "Agora há quem lá vá só para comprar [aos armazéns] e trazer, sem pescar nada."»
por Jorge Marmelo – in Público - 2/1/2010
imagem: bacalhoeiro "Santo André" em Ílhavo
«Nortada, brisa desfeita, mar de barbalhão. Mar branco de espuma, as carrouqueiras erguiam- se espicaçadas pelo vento cavando o dorso do mar. A espuma branca e fervilhante da ondulação metia respeito como as barbas de S. Telmo. Mas o poente é de jeito, mascatos voando em acrobacias estonteantes penetram na água, gaivotas em alvoroço, sardinha, muita sardinha, vai o mar cheio. O jeito que vai no mar não engana.
Depressa, varas estendidas na areia, rolos em cima e a gamela a deslizar sobre eles.
- Vai, vai, para baixo todos os santos ajudam!
- Vem malhouco, agora, empurra, salta. Vamos com Deus!
Algumas remadas e o Sabugo é alcançado, espuma dispersa da raiva do vento que as ondas desfaz.
- Vamos marear! – grita o arrais. Agora, enverga, pano estendido de proa à ré, amarra os envergues à verga alongada, lestos os aparelhos. – Arvorar o mastro, ostagar. Iça, iça, retesa os caçoilos, colhe a escota, teza o socairo. O leme, o leme já está ferrado, a cana do leme enfiada na cachola.
Roupa de oleado ajustada ao corpo, sueste a cobrir a cabeça salpicada de vento e de mar, alerta constante, vai a bolinar.
Força gamelinha, o jeito vai a noroeste pelo Lago, a Parede, os Carvalhinhos.
Ah! Mar de Deus, a surreada é de proa à ré, a gamela adorna por bombordo, a água entra pela borda metida. A vela latina é grande e perigosa, exige muita perícia e experiência nestas condições de nortada forte e mar encrespado, mas aguenta-se.
- Rapaz, escoa a água!
E o rapaz, iniciado, agarra-se a bombordo tiritando de frio e de medo, empunha a cunha (bartedouro) e zás, zás, pressuroso escoa a água .
- Para estibordo! - grita o arrais - depressa rapaz, vai adornar .
A vela quase toca na água, a gamela quase se volta, o rapaz encheu os canecos, aturdido pelo rugido do mar e os gritos do arrais, indefeso e molhado como uma sopa. Na boca o sabor amargo do sal e da vida que abraçou.
Manobra para arribar, proa à linha de vento. A água é muita a bordo: - Escoa, escoa . Ufa, que susto!
Agora, de novo à bolina, mais uma bordada a nordeste e outra mais a noroeste. - Virar, virar! - Ah! gamelinha, vela latina em barco masseira, estrutura românica , testeiro de proa, testeiro de ré, grande leme para compensar o fundo chato.
- É melhor rizar, tio Rifeiro.
- Não - responde - não vamos rizar, a gamela aguenta, nós aguentamos, podeis confiar, asseguro-vos. Logo o sol cai na água, temos de chegar depressa aonde vai o jeito.
- Então, que a Senhora da Bonança nos ajude.
É o último bordo, emposta a noroeste, mais surreada forte, verga a gemer contra o mastro firme, o vento a rugir nas adriças, pano cheio, proa ao mar.
- Vamos arrear! Aproa, colhe a escota, enrola o pano.
Mastro e verga descansam agora sobre a forqueta. O leme repousa sobre o testeiro e o banco de ré. O rapaz estava extenuado. Que bem sabia bater uma sorna ali debaixo do leme, abrigado. Mas o trabalho vai continuar.
- Vamos largar com Deus.
E as peças - as redes da sardinha - saem pela polé, à proa, boiréu, após boiréu, sineiras retesadas. Então, o sol baixinho, despede- se e o dia fenece. A nortada amaina, adormece com o sol perdido no desmaio do horizonte.
O assejo é breve, já há boireis mergulhados na água puxados com o peso suplementar das redes. A sardinha está nas malhas como o cabelo.
- Vamos alar!
As redes são agora um grosso rolo a entrar para bordo puxadas por braços renovados de força e entusiasmo. Chegam carregadas de sardinha, vivinha, brilhante como a prata, agitada e aflita. Enche-se a pana, a gamela tem a proa afocinhada até à matrícula.
- Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo! Para hoje já está e para amanhã Deus dará.
Agora a remos para o Portinho. Não há vento para a vela.
O silêncio da noite é cortado pelo esforço dos remos, o ruído peculiar do impacto das pás contra a água, das orelheiras enfiadas nos toletes e do arfar dos remadores. A proa chata corta o mar com dificuldade e, com o peso, amorrinha mais ao impulso e cadência das remadas. A luz mortiça do cigarro denuncia o fumador inveterado.
Horas a remar: - oh! S. Bento dai vento - mas só um gracejo a animar responde: - Ai , Alentejo da minha alma, arma os remos que está calma.
Depois, o cheiro quente dos pinheiros trazido pelo balbuciar duma suave e fugaz aragem de leste. É o bafo da terra que respira muito próxima.
Faróis enfiados , Portinho adentro. - Encosta, encosta, vamos varar.
- Não, encosta só que a maré está a baixar e, logo, a gamela fica encalhada no lugar da venda e do escochamento da sardinha .
Ali, sobre a areia deixada pela maré em seco, descansa agora a gamela, como um guerreiro no fim da batalha.
O clarão da alva ergue-se, diáfano, imaculado e já corre o pregão da Maria da Júlia a cortar o silêncio das ruas estreitas e desertas, ainda submersas na quietude matinal.
- Ó pu***… levantai-vos da cama que os vossos homes já chegaram. É uma praia de sardinha, vivinha como a prata, graças a Deus!
E logo o bulício característico, o cheiro, as imprecações à mistura com devoções, o Guarda Fiscal que é gatuno e impõe um dízimo pesado que entrega ao roleiro indignado, aquela peixeira que quer mais seis mãos (um quarteirão de sardinhas) sobre meio cento alegadamente por lhe terem faltado sardinhas na venda do dia anterior: - ai a ladra! - Mas, depois, tudo bem após uma corrida de “vai- te f****…, vai trabalhar”, em tom muito jocoso .
Ah! E o pobre que pede encostado à proa do lado de fora, olhar faminto e guloso. Sim, dar ao pobre para comer , que quando Deus dá, dá para todos.
As sardinhas que estão no foquim são para a caldeirada. E que não esqueça o quinhão da Santa.
Que grande semana! Dá para comprar camisola e calças novas, pôr uma mesa de rico, beber uns copos e divertir-se. É a festa da Senhora da Bonança, as bandas de música, a feira de atracções, a capela iluminada, tão bonita, os foguetes a estoirar no ar, o fogo preso e de artifício, os bailaricos, o arraial, a procissão junto ao Portinho. Enfim, enxugadas as lágrimas por um momento, para a comunidade se vestir de festa e devoção.
Amanhã, as nossas gamelas - os nossos barcos galegos - continuarão de proa ao mar.»
Fantástica representação de marinharia com três homens em trabalhos no gurupés da escuna. Tratar das velas no gurupés era porventura o lugar mais perigoso para se estar.
“Reaching Off Soundings” - John Mecray
«Decorria o ano de 1948 e Anselmo Vieira, que neste livro adopta o nome Telmo, via nesta viagem a oportunidade única para sentir na pele as emoções descritas nas leituras de juventude e adquirir experiência em águas longínquas. Passados 62 anos, os seis meses partilhados com 34 tripulantes, entre os quais o lobo do mar Capitão Vitorino e 27 pescadores de hábitos rudes, mas de coração ingénuo, transformaram-se num romance repleto de momentos inesquecíveis, reconstruídos com recurso a uma narrativa poética e descritiva, mas que vai além dos pormenores. Os amantes da literatura de viagens vão ficar presos a esta narrativa, como se também eles tivessem de enfrentar o frio e o nevoeiro ou a “força da natureza marinha”.»
por Fátima Lopes Cardoso
Sinopse
«Este livro reconstitui sob a forma de romance a última viagem bem-sucedida do bacalhoeiro “Júlia IV”, que o autor acompanhou pessoalmente, em 1948. A frota portuguesa era a única que ainda comparecia nos mares do Árctico com veleiros quase medievais, entre as frotas mecanizadas de espanhóis, franceses e russos. Narrada como um diário de bordo, a obra caracteriza magnificamente esta actividade. Nos Mares da Terra Nova é também um documento de inestimável valor histórico.»
«Anselmo Vieira nasceu em 1923 na cidade de Lourenço o Marques, em Moçambique, oriundo de uma família com raízes em três continentes Europa, Índia e África.
Atraído pela aventura do mar e das viagens formou-se como Oficial de Navegação pela Escola Náutica de Lisboa, tendo percorrido cerca de quarenta anos da sua existência na marinha mercante e vinte anos pelos caminhos da naturologia e biofísica medica, geobiologia, psicologia existencial e estudo paranormal das manifestações que, por vezes tanto afectam a saúde e o espírito do Homem.
No ano de 1949 publicou nas páginas do jornal "0 Primeiro de Janeiro", da cidade do Porto, a primeira e única serie de narrativas vividas por um tripulante sobre a vida de um lúgubre bacalhoeiro, o “Júlia IV”, numa viagem de meio ano nos mares da Terra Nova. Colaborador viajante do outrora conhecido "Diário de Noticias" de Moçambique, escreveu durante anos sobre impressões de viagens, gentes e filosofia existencial. O Humanismo esteve sempre presente na sua maneira de estar na Vida.
Frequentou o núcleo de arte da sua cidade natal como aluno do escultor Silva Pinto e um curso livre na Sociedade das Belas Artes de Lisboa. Dedicou-se ao desenho à ponta de pena e à pintura expressionista a óleo como um olhar sobre a vida e as pessoas, atribuindo grande importância à expressão corporal como reveladora das emoções e dos estados de alma em suas representações plásticas. Exposição colectiva de pintura em Joanesburgo antes do evento Abrilino de 1974, na Metrópole. Depois da independência da Republica Popular de Moçambique tomou parte numa exposição colectiva representativa dos artistas de todos os países africanos, organizada oficialmente na Nigéria. Regressou a Portugal em 1977, onde expõe pela primeira vez na galeria do Auditório do Instituto Nacional da Habitação de Lisboa, em 22 de Junho de 2005.»
in brochura da exposição "um olhar sobre a vida" de Anselmo Vieira - 5 a 16 de Dezembro de 2005 no Edificio Central do Município no Centro de Documentação/1º Piso Campo Grande, 25
«Um grupo de pescadores trabalha árduamente para puxar as suas redes das águas baixas junto à praia de Dili, capital de Timor Leste. “Depois do temporal da noite passada, não esperamos grande coisa”, diz Francisco Soares enquanto vislumbra a água. “Mas ainda assim estamos muito contentes e o Raymundo e o Horácio deram-nos uma grande ajuda para começar de novo.”
Os pescadores conhecem os dois voluntários das Nações Unidas, Raymundo Cawaling das Filipinas e Horácio dos Santos de Timor Leste desde 2001, quando estes dois conhecedores das pescas organizaram uma distribuição em larga escala de redes e equipamento de pesca doados por vários países.
Durante gerações, as comunidades costeiras dependeram de uma grande variedade de peixe como atum grande, peixe-voador, peixe dos corais entre outros que abundam ao longo dos 600 km da costa de Timor Leste. O Departamento das Pescas estima que cerca de metade dos 20.000 pescadores do país têm na pesca por exclusivo a sua fonte de nutrição e rendimentos.
90% da frota costeira de Timor Leste, aparelhos de pesca e estruturas costeiras foram destruídas durante o violento conflito que deflagrou entre oponentes e apoiantes da independência, após a grande maioria ter votado pela soberania a 30 de Agosto de 1999. Milhares de pessoas fugiriam do território.
Richard Mounsey, da Austrália, responsável pelo organismo Ambiente Marinho afirma que “estivemos à caça de dinheiro para atingir o nosso principal objectivo: ajudar os Timorenses a sustentarem-se por si próprios, restaurando-lhes o orgulho como pescadores. Eles não queriam arroz trazido em helicópteros, queriam sim os seus aparelhos de volta para irem de novo à pesca.”
Numa primeira fase de distribuição de redes, o resultado da pesca aumentou 60% em relação a 1997 – 1.600 toneladas por ano. Foram também montadas oficinas de construção naval e 18 Timorenses receberam treino de oficiais das pescas no Ministério da Agricultura e Pescas.
Como estado independente, Timor Leste viu crescer a sua zona de pesca de uma faixa de 3 milhas para 150 millhas a Sul e 15 milhas a Norte. Tal espera-se que atraia companhias de pesca às novas oportunidades oferecidas, mas com o devido controlo, pois os “abutres da pesca industrial mundial” são séria ameaça ao ambiente marinho. Outras ameaças são o ainda uso de explosivos, veneno e o corte de mangais, onde várias espécies de peixe se desenvolvem.»
Traduzido do original de Tarik Jasarevic - 06 de Augosto de 2002
imagem 2 - yeowatzu
Embora o artigo já seja bem antigo, permite ter uma ideia da área das pescas e sua importância no geograficamente longínquo Timor Leste. As imagens aqui colocadas mostram o mais comum barco de pesca utilizado no país, o “beiro”. O beiro é feito ou de um tronco único de árvore que é escavado até tomar a forma pretendida, ou de tábuas armadas para o efeito.
Um pouco sobre o Timor actual - O Livro das Contradisoens
«João Carlos Caetano esteve na pesca do Bacalhau e relata em diário publicado a primeira viagem aos bancos da Terra Nova e à Gronelândia. Ao Correio dos Açores conta outras vivências da pesca e relata o pedido que fez na altura em que decorriam as festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres. "Estávamos entalados no gelo e o navio não conseguia passar. De joelhos e mãos postas pedi que o Senhor nos ajudasse a sair dali, senão morríamos, houve um milagre. O gelo abriu um pouco e conseguimos passar".
"Pesca do Bacalhau - Diário de Bordo de João Carlos Caetano - De S. Miguel à Gronelândia - Ano de 1952" é o título do livro que o pescador da pesca do bacalhau lançou com o apoio da Câmara Municipal de Lagoa e co-financiada pelo Programa Prorural - Eixo 3.
A obra relata a primeira viagem aos Bancos da Terra Nova e Gronelândia de João Carlos Caetano realizada no ano de 1952 a bordo do navio "Oliveirense". E todas as peripécias vividas durante os seis meses em que seguiam a bordo. "Éramos entre 50 a 60 pessoas a bordo, incluindo o capitão, o motorista, o imediato e os ajudantes. Vivíamos como uma família, não havia discussões, mas muitas das coisas que passamos e que hoje podia contar ficaram diluídas no tempo", diz-nos o autor da obra, que recorda ao Correio dos Açores os momentos mais marcantes da sua vida enquanto pescador do bacalhau.
Na altura João Carlos Caetano era moço de convés deste navio tendo anotado, por escrito, os principais acontecimentos que marcaram esta sua viagem na aventura da pesca do bacalhau, e como conta ao Correio dos Açores conseguiu reunir as principais vivências no mar em seis cadernos, que dizem respeito aos dezasseis anos que desempenhou esta actividade.
João Carlos Caetano iniciou a sua profissão enquanto pescador em 1952, quando tinha apenas 17 anos, acabando 1967, altura em que comprou um barco de boca aberta, com 11 metros, e dedicou-se afincadamente à pesca artesanal no Porto dos Carneiros, na freguesia do Rosário, na Lagoa, onde viveu toda a sua vida, tendo feito um interregno de 14 anos, por ter emigrado para a América, onde se fixou em Fall River. Como conta a ida para a América teve apenas como objectivo dar um futuro melhor aos seus filhos. Dos sete, seis casaram e estão a viver na terra da oportunidade, um está na lagoa, onde trabalha na Lota, lugar onde o pai trabalhou também durante 16 anos [antes chamava-se Casa dos Pescadores e depois Lotaçor], depois de ter vendido o barco, por ter adoecido.
Na América, trabalhou num estaleiro a fazer barcos, mas tanto ele como a mulher sempre sonharam foi regressar à sua terra de origem, o que fizeram 1996.
Mas importa voltar aos tempos em que começou a sua labuta no mar. Como se disse começou aos 17 anos, altura em que partiu para Lisboa, para a Escola de Pedrouços, no continente, para aprender a arte de marinharia e navegação, mas também aprender a remendar a rede, a fazer correias, a fazer roupa. Regressou à Lagoa passado este período para fazer a sua mala e partir uma semana depois para alto mar. A vida no mar naquela altura era dura, porque estávamos seis meses num navio de barco à vela. Na altura éramos 8 moços, que em vez de irmos à tropa fazíamos este tempo no mar. Houve um ano em que adoeci e tive de fazer tropa no continente, durante os seis meses em que o navio estava na pesca do bacalhau.
João Carlos viveu dias difíceis, mas diz que naquela altura era novo e não tinha medo de nada. Mas um dia, altura em que São Miguel que festejava o Senhor Santo Cristo dos Milagres o navio teve de aportar em St. John, no Canadá, para deixar um amigo doente em terra. Depois de o deixarem em terra enfrentarem uma adversidade: encontraram gelo e o navio ficou entalado. Foi um caso sério. Pensávamos que não íamos sair dali e que lá ficaríamos. De joelhos e mãos postas ao alto pedi ao Senhor Santo Cristo dos Milagres que abrisse um pouco o gelo para que conseguíssemos passar. Quando Deus quis isso aconteceu, tendo o navio passado por uma nesga aberta no gelo. Foi milagre.
Nos seis meses, quando estavam nos bancos da Terra Nova cerca de mês e meio andavam sempre à pesca sem ver terra.
Hoje a pesca à linha acabou mas na altura em que João Carlos estava na pesca do bacalhau era tudo manualmente que era feito, quando hoje a pesca é feita de arrasto e leva tudo à sua frente. Na minha altura, de manhã entregavam-nos 45 sardinhas para fazermos a isca e lá íamos em botes. Quando estava bom tempo os botes espalham-se e ia cada um para seu lado, mas um dia o tempo virou. Saímos com bom tempo mas pouco depois houve uma enorme tempestade. O navio içou a bandeira para que regressássemos. A sirene tocou. Mas um homem faltou à chamada. Era o José de Matos, da Calheta de Ponta Delgada, que desapareceu e nunca mais apareceu. Foi uma tragédia. Ficamos muito tristes. Dar a noticia à família foi terrível. As mulheres contavam os meses para que os maridos chegassem e aquela família teve foi uma triste notícia.
Fora esta tragédia não houve mais nenhuma perda humana, mas João Carlos também assistiu ao desaparecimento do navio, que se afundou, após ter pegado fogo. Diz que foi o primeiro a ver o fumo e deu o alerta. Salvamo-nos todos mas perdeu tudo, roupa e dinheiro e todo o bacalhau pescado, que havíamos escalado, salgado e colocado no porão, como sempre fazíamos. Saímos em botes, e felizmente fomos salvos pelo navio "São Jorge" que estava perto.
De tudo, a mágoa maior que João Carlos tem é que trabalhou tanto, de sol a sol, debaixo de tempestades, longe da família, e recebe uma reforma de miséria, porque o Estado português entendeu que devia juntar à fraca reforma que recebe da América. Descontou trinta e cinco anos, mas de pouco valeu. Hoje que está doente lembra com tristeza o sofrimento que teve, embora fizesse tudo com gosto, mas que hoje devia gozar de algum bem-estar monetário mas nem isso lhe dão.
Salão Nobre da Junta de Freguesia de Nossa Senhora do Rosário foi pequeno demais para todos quantos quiseram assistir ao lançamento do livro Pesca do Bacalhau - Diário de Bordo de João Carlos Caetano - De S. Miguel à Gronelândia - Ano de 1952. Na presença de amigos, colegas e familiares, João Carlos Caetano apresentou o seu registo escrito dos tempos que era moço de convés, numa obra que contou com o apoio da autarquia lagoense.
Para João Ponte, Presidente da Câmara Municipal de Lagoa, este livro é um relato escrito que permite um conhecimento mais profundo da árdua vida dos pescadores que se dedicavam à pesca de bacalhau, onde tomamos consciência deste mundo próprio que caracteriza de um modo simples, mas autêntico, a realidade do que é ser-se pescador.
O autarca lagoense destacou na ocasião a dedicação de João Carlos Caetano, um lagoense que exerceu a profissão e a arte da pesca durante muitos anos e que depois desta incursão na pesca do bacalhau, que desempenhou durante vários anos, dedicou-se à pesca artesanal no Porto dos Carneiros.
João Ponte disse ainda que com a publicação deste livro, a Câmara Municipal de Lagoa procura deixar um legado e um testemunho vivo de dedicação, coragem e trabalho no exercício de uma actividade que, outrora, era certamente mais difícil.
Segundo o edil lagoense, a narração destes episódios da pesca do bacalhau, agora publicada em livro, assume-se como um exemplo vivo para as gerações vindouras e uma homenagem a todos aqueles que se dedicaram à actividade piscatória, sacrificando, muitas vezes, as suas vidas, sendo, igualmente, um sinal, claro e inequívoco, do apreço e gratidão da autarquia para com quem desempenhou uma actividade difícil e arriscada ao longo da sua vida, com inegáveis contributos para o desenvolvimento económico e social da Lagoa.
A Lagoa foi, é, e sempre será terra de pescadores, terra de homens corajosos que buscam o seu sustento nas águas revoltas do mar, numa profissão perigosa mas igualmente desafiante, uma imagem de marca do concelho e uma das bases da nossa economia, concluiu.»
Autora: Nélia Câmara – 04-07-2010, Correio dos Açores.
«A história da pesca do bacalhau é quase a história da civilização ocidental. Para Portugal é uma história épica intimamente ligada aos descobrimentos e ao renascer da pesca no século XX.
Os antigos registos apontam como certo que os vikings aportaram à região da Bairrada durante o século IX, ainda antes da formação de Portugal. Misto de guerreiros e de comerciantes, traziam consigo bacalhau seco que trocavam por sal e vinho. Ou seja, os noruegueses antigos trouxeram para Portugal o gosto a bacalhau.
Depois da formação de Portugal, já no reinado de D. Pedro I, em 1303, há registo escrito de que um tal Afonso Martins, em representação dos pescadores bairradinos, estabeleceu acordo com o rei de Inglaterra para pescar bacalhau nas costas britânicas.
Os reis portugueses estavam preocupados com as descobertas das rotas das especiarias. Um mapa português datado de 1424 (guardado no museu Britânico) mostra que já se conheciam a Terra Nova e a Nova Escócia. Aliás os navegadores de Viana do Castelo, de que João Álvaro Fagundes é o mais conhecido, e os Corte-Real, povoadores dos Açores, baptizaram aquela «ilha» de Terra Nova dos Bacalhaus. Ou seja, a busca da Índia fê-los encontrar um outro tesouro.
O rei D. Afonso V fez um acordo com o rei Christian I da Noruega e Dinamarca para que navegadores dos dois países tentassem encontrar a falada passagem do noroeste, que daria acesso ao Oceano Pacífico, contornando a grande «ilha» da Terra Nova. Sabe-se que em 1446 essa viagem já tinha sido realizada.
A rota da Terra Nova passou a ser dominada pelos navios portugueses. A pesca era de tal modo florescente que em 1506 D. Manuel lançou um imposto sobre a pesca da Terra Nova.
Pelo meio de tudo isto há que salientar a criação de um novo método de curar peixe que passou a ser utilizado tanto pelos portugueses como pelos bascos. O peixe capturado nas costas inglesas vinha nas barcas e caravelas até às costas ibéricas. Para que não apodrecesse limpavam-no logo de vísceras e cabeças e salgavam-no no barco par o conservar, tal como se fazia com as carnes. Mas, depois de descarregado o peixe ainda escorria muito água. Daí se ter passado a secá-lo nas rochas costeiras. Assim era mais fácil de transportar, era mais durável e os comerciantes pagavam mais por este peixe bem curado.
Quando Portugal esteve sob domínio de Espanha toda a frota de pesca portuguesa foi arregimentada para fazer parte da chamada Invencível Armada, com a qual Filipe III queria vencer os ingleses. A derrota da frota ditou a queda das pescas portuguesas. Sem embarcações capazes, os portugueses só retornam aos bancos de bacalhau da Terra Nova quase dois séculos depois.
A pesca do bacalhau só ganha nova forma e força no Século XX com a aposta feita pelo Estado Novo em voltar à pesca longínqua.
Mas a pesca do fiel amigo era feita em exagero. As frotas americana, canadiana, espanhola pescavam bacalhau sem parar. Os portugueses mativeram durante muito tempo as artes de pesca tradicionais, usando a linha e os dóris para captura o fiel amigo.
Nos anos 90 acaba-se a pesca do bacalhau na Terra Nova. Os cardumes estavam á beira do esgotamento. A frota portuguesa, por utilizar métodos de pesca antiquados (pesca à linha) por comparação com a maior parte dos outros navios de pesca, acabou por ser a menos responsável no esgotamento dos stocks. Passados mais de 15 anos, a pesca de bacalhau naquela área, os cardumes de bacalhau ainda não voltaram a atingir um nível sustentável.
Agora, em Portugal, de novo, é dos mares frios do Norte da Europa, tal como nos primórdios da nossa nacionalidade que nos voltou a chegar o nosso fiel bacalhau.»
in Mar da Noruega
foto - lugre bacalhoeiro português "Gaspar", em 1947.
bacalhoeiros canadianos-americanos
relatos da lancha poveira "fé em deus"
A Frota Bacalhoeira Portuguesa.
filme Uma Aventura na Pesca do Bacalhau
documentário "A Pesca do Bacalhau" - 4 partes
filme 1952 - n/m "Alan Villiers" - Estaleiros Navais de Viana do Castelo
filme 1956 - n/m "São Jorge", construção e bota-abaixo
filme 1957 - l/m "Oliveirense"
filme 1958 - Bacalhoeiros em Viana do Castelo
filme 1964 - n/m "Novos Mares", chegada à Gafanha
filme 1967 - "Os Solitários Pescadores-dos-Dóris"
filmes 1977 a 1991 - Nos Grandes Bancos da Terra Nova
filme 1981 - "Terra Nova, Mar Velho"
História / Filmes de referência à Pesca do Bacalhau
Confraria Gastronómica do Bacalhau - Ílhavo
Lugre-patacho "Gazela Primeiro"
Lugre "Cruz de Malta" ex-"Laura"
Lugre "Altair" - "Vega" - "Vaz"
Lugre "Estrella do Mar - "Apollo" - "Ernani"
Lugres "Altair" "Espozende" "Andorinha" "S. Paio" "Cabo da Roca"
Lugres "Silvina" "Ernani" "Laura"
Lugres "Sotto Mayor" "São Gabriel"
Lugre-motor "Creoula" - Revista da Armada
Lugre-motor "Santa Maria Manuela" - Renasce
NTM Creoula em St.John´s, Agosto 1998
A Campanha do "Argus" - Alan Villiers
Lugre-motor "Argus" / "Polynesia II"
Lugre-motor "Primeiro Navegante"
Lugre-motor "Santa Maria Manuela"
Lugres-motor "Maria das Flores" "Maria Frederico"
A Inspiração dos Cisnes 1 (Inglês)
A Inspiração dos Cisnes 2 (Inglês)
A Inspiração dos Cisnes 3 (Inglês)
Navio-mãe "Gil Eannes" - 1959-71 Capitão Mário C. F. Esteves 1
Navio-mãe "Gil Eannes" - 1959-71 Capitão Mário C. F. Esteves 2
Navio-mãe "Gil Eannes" - 1959-71 Capitão Mário C. F. Esteves 3
Navio-mãe "Gil Eannes" - Fundação
Navio-motor "Capitão Ferreira"
Navios-motor "Capitão Ferreira" "Santa Maria Madalena" "Inácio Cunha" "Elisabeth" "São Ruy"
Navio-motor "Pedro de Barcelos" ("Labrador" em 1988)
Arrastão "Santa Maria Madalena" 1
Arrastão "Santa Maria Madalena" 2
Arrastão "Leone II" ex-"São Ruy"
Arrastão "Álvaro Martins Homem"
Arrastão "Argus" ex-"Álvaro Martins Homem" 1
Arrastão "Argus" ex-"Álvaro Martins Homem" 2
Arrastão-clássico "Santo André"
Arrastões-popa "Praia da Santa Cruz" "Praia da Comenda"
Arrastão-popa "Inácio Cunha" hoje "Joana Princesa"
Arrastão-popa "Cidade de Aveiro"
Estaleiros de Viana do Castelo
# Quando o "Cutty Sark" foi o português "Ferreira"
# Quando o "Thermopylae" foi o português "Pedro Nunes"
# Quando o "Thomas Stephens" foi o português "Pêro de Alenquer"
# Quando o "Hawaiian Isles"/"Star of Greenland"/"Abraham Rydberg III" foi o português "Foz do Douro"
filmes - Mares e Rios de Portugal.
Catraia Fanequeira de Vila Chã, Vila do Conde
Maria do Mar - Nazaré, anos 30 - 9 partes
Tia Desterra - Póvoa de Varzim - 12 contos
Douro, Faina Fluvial - 1931 - 2 partes
Pescadores da Afurada, anos 60 - 2 partes
Palheiros de Mira - Onde os Bois Lavram o Mar - 1959
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Douro, Descida do Rio - 2 partes
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Estaleiros Navais de Viana do Castelo - 65 anos
A "Cumpanha".
Modelos de Navios de Prisioneiros de Guerra-POWs Bone Ship Models
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