Terça-feira, 28 de Abril de 2009
O que significa o lugre-motor “Argus”... .

“A Campanha do Argus” - Alan Villiers, 1951 - síntese

 
«Em 1929 Alan Villiers, estava a bordo do “Grace Harwar”. Um dos oficiais tinha enlouquecido, outros tripulantes tinham morrido, os restantes tinham escorbuto e estavam ainda a mil milhas do destino. No entanto, quando avistaram um bacalhoeiro português um dos marinheiros terá dito: «as coisas estão mal pela Europa toda, hoje em dia, mas vocês nunca se metam num barco com eles. Aqueles portugueses usam dóris de um homem só. Afastem-se deles!» Mas isso foi coisa que Villers não fez. Em 1950 meteu-se a bordo do “Argus” e seguiu para os bancos da Terra Nova com a tripulação. O seu relato, que faz recordar os textos mais aliciantes do National Geographic, do qual foi um dos colaboradores mais conhecidos, faz justiça ao aviso: a loucura / bravura dos pescadores portugueses, aqui descrita de forma tão clara que mesmo os mais leigos na matéria se sentem imediatamente por dentro do assunto, torna-se tão evidente que não espanta que a obra tenha sido bem tratada pelo regime do Estado Novo como peça de propaganda. Talvez tenha sido o caso, (e foi) mas não é certamente, por isso, que «A Campanha do Argus» perde o valor histórico e literário que, indubitavelmente, tem. Nas histórias dos pescadores vemos reflexos claros dos descobridores intrépidos do século XVI e sentimo-nos parte desse mundo. A reedição desta obra (o original é de 1951) é mais que uma aposta ganha, é um serviço que fazia falta».
Filipe d'Avillez (Outubro 2005, Os meus livros)
Agradecimentos a Paulo Trincão pela indicação da origem desta síntese.
 
Pois bem, é em grande parte este o significado que o navio “Polynesia II” (ex-“Argus”) tem para Portugal. Em breve, mais esta “peça histórica” da grande nação naval que fomos até 1974, vai voltar ao seu nome e aspecto original de 1939, “ARGUS”, segundo a vontade da Pascoal & Filhos, sua detentora. Chegou finalmente à Gafanha da Nazaré a 06.04 passado e nos próximos tempos, quando receber os muitos trabalhos de recuperação, estará, espera-se, semelhante à foto que vemos de 1950. Tais trabalhos só terão início após a conclusão do "Santa Maria Manuela".
Importa salientar que a maior parte dos muitos lugres e navios que constituiram a nossa frota bacalhoeira no séc. XX, todos eles tiveram as suas semelhanças com o “Argus” no significado maior da Epopeia onde estavam inseridos. Pescava-se o bacalhau de formas diferentes, alguns navios faziam-no por arrasto, outros por redes, mas a maior parte e os mais lembrados eram os que o faziam à linha, nos tais dóris que “aqueles portugueses usam. Afastem-se deles!”, como se só um louco o pudesse fazer em oceano aberto.
Sem desprimor ao belo “Santa Maria Manuela” em reconstrução, ou ao activo ”Creoula” ou a qualquer outro dos lugres / navios antigos da frota, o ainda “Polynesia II” é a bandeira maior e mais afamada daquela Epopeia por ter sido o escolhido por Alan Villiers. O que ele registou em 3 formatos diferentes, prova que ainda até há 35 anos atrás, “os reflexos claros dos descobridores intrépidos do séc. XVI” eram abundantes nas nossas comunidades marítimas, fosse na costa ou em mar alto.
Note-se que apregoamos, justamente, os grandes homens de há 500 anos, que por Portugal começaram a unir hemisférios por mar. Pois o “Argus” e seus pares, são parte das ferramentas de futuro para mostrar aos portugueses que os homens de há 500 anos, pelos quais alcançamos glórias eternas na sua Epopeia dos Descobrimentos, têm a seu lado na História, os homens da Epopeia do Bacalhau. A diferença é que a do bacalhau só terminou “recentemente” e o seu real significado só agora começa a ser realmente exposto aos portugueses. Afinal, Portugal teve duas grandes Epopeias.
 
Foto – blog oficial do “SANTA MARIA MANUELA


publicado por cachinare às 09:46
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1 comentário:
De jaime pontes a 8 de Maio de 2009 às 01:01
Os três cisnes.
Hoje mesmo foi tema de converssa com a rapaziada na praia ,e muitos não sabém que os Navios Argus e Santa Maria Manuéla estão entre nós comprados pela Pascoal e FILHOS ,mas vão sendo mais os que já sabém e muitos dos que andaram a pesca do bacalhau ,estão entusiasmados e até disseram que se tivessem possibilidades que iriam fazer uma visita quando os mesmos estivessem prontos a reçever visitas .
Por isso fico a pensar ,e se um bélo dia um desses o ARGUS ou o MANUELA fizesse uma visita aqui as Caxinas e com aquelas sirenes que também conheçemos a comprimentar os antigos pescadores e todos a correr a praia e a comentar ,tinha homém que se emossionava com tanta alegria ,infelismente isso não aconteçerá mas se fosse possivel ,éra um aconteçimento único memorável ! ...Obrigado António mais uma vês por estas memorias ...Jaime Pião


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