Sexta-feira, 14 de Novembro de 2008
FGCMF - Federación Galega pola Cultura Marítima e Fluvial.

«Com a celebração de um encontro de embarcações tradicionais no Verão de 1993 nas águas de Ribeira, na costa noroeste da Ria de Arousa, começou de facto a travessia da Federação Galega pela Cultura Marítima, ainda que a sua existência legal seja de finais de 1994. Desde a criação, a sua sede encontra-se na costa leste da mesma ria, em Cambados, vila pioneira no associativismo do mar e onde se fundou em 1917 o primeiro Centro de Marinheiros e Mariscadoras de todo o Estado espanhol.

Dionísio Pereira, primeiro presidente da Federação, tem escrito sobre os sonhos e o entusiasmo da gente das três associações da altura da fundação que ininterruptamente formaram parte deste organismo (“Dorna Meca”, do Grove, “Etnográfico Mascato”, de Cambados e “Cofradía da Dorna”, de Ribeira) e das associações que participaram no processo constitutivo, mas que desapareceram ou não se integraram.
Com o constante apoio de pessoas alheias à Federação – particularmente a de Staffan Mörling, o sueco de Beluso que dignificou os barcos dos pobres e a de Lino Lema, que desde a Consellería de Pesca da Xunta de Galicia sempre apoiou o movimento associativo de recuperação das embarcações e da cultura marítima tradicional – com muito voluntariado e com muito amor à navegação e a um património muito pouco valorizado, a tripulação das associações pioneiras foi quem foi contagiando o seu entusiasmo a muita outra gente do litoral galego (e do norte de Portugal), embarcando na travessia de revitalizar e dar valor a um património marítimo numa situação tão crítica em inícios dos anos 90, que tal como disse Xavier Trepat “até os mais optimistas eram pessimistas”.
Depois de um encontro de embarcações nas águas do Grove em Julho de 1997, a Federação, em palavras de Dionísio “ficou em terra, sem directivas nem actividade nenhuma”, enquanto as associações mantinham acesa a chama de dar valor a este património. No Verão de 1999, Xavier Trepat ocupou a presidência ao reorganizar-se a Federação com a integração de novas associações, salientando-se a “Cultural Dorna”, da Ilha de Arousa, organizadora da veterana regata de dornas em volta da ilha e que já participara na fase prévia de constituição nos começos dos anos 90. Nos últimos anos, passando pela presidência de Xaquín Cuíñas e na actual de Fernando Piñeiro, icorporaram-se muitos e diversos colectivos que defendem a cultura dos mares e dos rios.
Actualmente são 38 as associações que compõem a FGCMF. Delas, 36 são da beira-mar, desde Burela nas costas da província de Lugo a Viana do Castelo, já na costa minhota portuguesa, pois a Federação é Galega da Gallaecia; a estas juntam-se duas associações de barcas dos rios Minho e Sil, que se integraram em finais de Novembro de 2003, nos mesmos dias em que a gente da costa, desolada e impotente, via o negro petróleo do “Prestige” a invadir o meio que sempre lhes permitira viver.
A cada dois anos, no Verão, a FGCMF celebra o Encontro de Embarcações Tradicionais da Galiza, tornando-se na “Grande Festa da Cultura e do Património Marítimo e Fluvial”. O primeiro, como já dito, realizou-se em Ribeira (1993) e os seguintes em Coruxo (1995), O Grove (1997), Rianxo (1999) – este organizado pela Escola-Obradoiro de carpintaria de ribeira “A Xeiteira”, quando a Federação estava suspensa - , Poio (2001), Ilha de Arousa (2003), Cambados (2005), [[Ferrol (2007) e futuramente Muros (2009)]].
No pioneiro Encontro de Ribeira navegaram apenas duas dúzias de barcos tradicionais, enquanto que no de Cambados se inscreveram 122 barcos (cerca de 170 com os não inscritos), que vieram de todo o litoral da Galiza e também de Portugal, Euskadi (País Basco), Irlanda e litoral mediterrâneo espanhol. Nunca tantos tipos diferentes de embarcações e de velas tradicionais se viram a navegar num encontro da FGCMF e nunca tantos tripulantes velejaram juntos – inscreveram-se 755 – o que demonstra a vitalidade do património marítimo, particularmente do galego e a força de um movimento associativo socialmente ainda bem pouco visível para a maioria da população. Esteve mesmo presente uma rudimentar lancha da vindima de Chantada, das que navegavam pelo rio Minho.
Em 2007 celebrou-se no Ferrol o VIII Encontro, onde de novo se mostrou a riqueza do património marítimo e fluvial da Galiza (e de países banhados pelo Atlântico e Mediterrâneo) e a necessidade de o conservar, servindo para demonstrar as possibilidades económicas do desenvolvimento das acções sobre a cultura e o património marítimo e as vias que se podem abrir para actividades que gerem emprego, sem desgaste do meio marinho e fluvial. No Encontro da Ilha (2001), institucionalizou-se a presença de um convidado de honra, que nesse ano foi Portugal, enquanto que no de Cambados foi o Mar Mediterrâneo e no de Ferrol a Bretanha.
 
A FGCMF funciona em assembleia com três reuniões anuais ordinárias. Desde 2001 que conta com um boletim interno, “O Apupo”, onde se dá conta da vida associativa da Federação e que se distribúi em papel e pela internet e para substituir a publicação bi-anual que se editava desde o Encontro de Coruxo, lançou-se a “Ardentía”, revista de cultura marítima e fluvial dirigida por Luís Rei, da qual saíu o primeiro número em Junho de 2004 com o património imaterial marítimo-fluvial como tema para assim apoiar a Candidatura de “Ponte nas Ondas” das Tradições Orais Galaico-Portuguesas como Património da Humanidade. Em Março de 2007 saíu o nr. 4, dedicado à mulher marinheira, porque nos mares também trabalham mulheres.
(...) A FGCMF realizou recentemente uma exposição sobre o património marítimo e fluvial centrada nas embarcações. O objectivo foi mostrar de forma didática a rica tipologia dos barcos tradicionais, a sua evolução e uso actual bem como a diversidade de contornos socio-culturais e ambientais nos quais nascem e se desenvolvem. Esta exposição esteve no Encontro do Ferrol e em Julho de 2008 em Brest, França, na Festa das Tradições Marítimas, onde a Galiza foi convidada de honra juntando-se à Noruega, Suécia e Vietnam.
À parte de potenciar a recuperação e reabilitação de muitos e diversos barcos tradicionais por parte das associações federadas, de elaborar informação e exposições do património e de difundir o seu valor e o seu deficiente estado de conservação, a FGCMF participa nas manifestações culturais marítimo-fluviais da Península Ibérica (Portugal, Euskadi, Catalunha e Andaluzia) e de outras zonas, particularmente na Bretanha, como na festa bi-anual do mar de Douarnenez onde foi convidada de honra em 2000, ou a de Brest de 4 em 4 anos.
Hoje a Galiza está na vanguarda da recuperação do património marítimo-fluvial e é uma clara referência para as várias federações ibéricas que estão a surgir. Tal como referiu Staffan Mörling em inícios de 2006, esse trabalho “surgiu aquando o da Bretanha francesa ou Noruega, mas não por imitação e sim sempre com mais gente nova que todos os dias mostrava interesse em construír e deitar à água mais dornas” (um dos barcos mais apreciados da Galiza).
A FGCMF nunca teve uma visão nem saudosista nem folclórica do mundo dos mares e dos rios, querendo-os apenas sempre vivos e produtivos. Nunca se pretendeu cantar uns mares e rios fecundos que já passaram à história mas sim nos seus encontros bi-anuais e nos particulares de cada associação, nas diversas campanhas como a de 1996 em prol da carpintaria de ribeira, nas publicações e exposições, a FGCMF trata de valorizar a herança recebida para a fazer crescer em novas e frutíferas vertentes, sempre em contacto com as gentes do mar.
Apelamos para que não diminúa a constante e desinteressada entrega das pessoas que participam nas diversas associações, porque tal é fundamental para o actual movimento de recuperação, revitalização e socialização do património imaterial marítimo e fluvial da Gallaecia. Se na sua defesa o vento surgir pela proa, teremos de bolinar (ou “voltear”, num termo dos velhos pescadores); e se tivermos de perder muito tempo a bolinar, “então baixa-se a vela e põe-se mãos aos remos”.
Com vento de feição ou sem ele, à vela ou sem ela, seguiremos a travessia iniciada pelos pioneiros da diginificação das embarcações tradicionais e sua cultura, tendo sempre presente que o importante não é tanto chegar à sonhada Ítaca, mas sim para a gente da FGCMF a plena socialização e valor de um imenso património que forma a singularidade cultural da Galiza e o realmente mais importante é a viagem e as experiências vividas em cada largada.»
 
Francisco Fernández Rei – Vice-presidente da FGCMF
Imagens - FGCMF

Este é o texto de apresentação da Federação no seu site oficial e que transcrevi quase na sua totalidade, “aportuguesando-o” numa ou outra parte, sendo que practicamente não há necessidade em tal, mas é necessário que o seu trabalho seja entendido até pelos mais “duros de ouvido” ou de idioma.
Julgo que o texto é muito claro a evidenciar a importância dos patrimónios marítimos e fluviais, tornando-os “vivos” o mais possível. Resumindo, esta fase acima mencionada diz tudo: “A FGCMF nunca teve uma visão nem saudosista nem folclórica do mundo dos mares e dos rios, querendo-os apenas sempre vivos e produtivos”.
Viajando ao tempo em que não havia fronteiras nem mapas a dividir a Península, a antiga Gallaecia incluía o hoje Norte de Portugal e apesar de “dividida” entre dois países actualmente em termos políticos, as gentes e a cultura continuam a ser as mesmas, extremamente ricas à sua maneira. Esta Federação é mais um exemplo de cooperação que me diz um pouco mais que os outros por estar ligado à minha tradição familiar: a pesca e tudo em volta dela.
Neste caso específico, o Norte de Portugal (e todo o país) tem ainda que criar “muitas associações”, pois está(va) também apinhado de barcos como a Galiza. O trabalho de cerca de 15 anos na Galiza já deu muitos frutos e dará mais por certo, e o envolvimento de Portugal no mesmo só ajuda ambos.

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publicado por cachinare às 08:13
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