Segunda-feira, 22 de Setembro de 2025
As barcas das armações - Nazaré.

 

«A Vila da Nazaré constitui um núcleo de formação recente, descendo os seus habitantes directamente dos laboriosos e arrojados pescadores da Pederneira aos quais se vieram juntar no século XVI os pescadores do desaparecido porto de Paredes e no século XVIII os pescadores vindos de Ílhavo.

Os vestígios de pesca em toda a área que hoje representa o concelho da Nazaré são muito antigos e os portos do mar sucederam-se uns aos outros à medida que o mar ia recuando. Vestígios romanos atestam a existência de um frequentado porto de abrigo em extinção. Sabe-se que devido às condições do seu porto, a Pederneira foi um concelho muito próspero em que os habitantes se dedicavam à pesca à linha e á construção naval.
Há quem afirme que a Pederneira foi fundada pelos moradores do porto de Paredes, quando no século XVI este porto foi utilizado por assoreamento pelas areias marítimas. No entanto a opinião mais digna de crédito é a de que aos pescadores da Pederneira se vieram juntar os pescadores do porto de Paredes no século XVI. No tempo de D. João I, a importância da Pederneira cresce dia a dia, não só como centro de pesca mas como estaleiro cada vez mais activo de construtores navais, calafates, estrinqueiros, breadores e remolares.
A Pederneira foi assim um dos mais afamados portos de pesca, um dos mais activos estaleiros depois da Ribeira das Naus. Os reis encomendavam a construção de muitas naus e caravelas aos seus estaleiros e entre os seus pescadores recrutaram-se muitos dos bravos marinheiros que levaram o nome de Portugal às costas da Mauritânia e da África, aos Palmares da Índia... enfim. Por esse motivo o rei D. Manuel teria facilitado a extracção da madeira da Mata do Valado que pertencia à Ordem de S. Bernardo, aos pescadores da Pederneira.
 
 
Foi com a chegada dos pescadores vindos de Paredes que a pesca tomou grande incremento na Pederneira. No entanto, no ano de 1760, com a chegada dos pescadores de Ilhavo à Pederneira e com a introdução por estes da pesca com «artes» ou «redes grandes», que a pesca se desenvolveu como indústria. Durante o século XVIII, os ilhavenses foram-se fixando temporariamente durante alguns meses na denominada então «Costa da Senhora da Nazaré» até à sua fixação permanente. É desde essa altura que se conhece a designa de «Nazaré». Os pescadores de Ílhavo dedicavam-se à pesca do peixe miúdo lançando redes, ao passo que os da Pederneira se dedicavam à pesca do peixe grosso com anzol, devido à riqueza em peixe nos mares da Pederneira. A fixação destes está relacionada com a pesca de sardinha exercida por meio de redes de arrastar para a terra trazida por eles mesmos.
Foi nos fins do século passado que os pescadores da Nazaré começaram a empregar as armações fixas, redondas e valencianas e depois os cercos americanos. O mar, tal como as terras para a população rural tem os seus nomes e designações especiais, conhecendo o pescador a sua constituição, profundidade e por experiência também, o modo de pesca que se deve empregar. Entre outros, conforme a designação dos pescadores existe o mar do Cidral, mar do Trompão, mar Rico, mar Barrete, Mato, Mar do Paraíso, enfim. O mar do Paraíso é entre todos eles o mais conhecido entre os pescadores, por ter à superfície das águas uma espécie de bolha como a do azeite e com um pronunciado e característico cheiro a petróleo. Também os fundos de caliça existente tem os seus nomes. Denominados «duros» pelos pescadores, entre eles avultam o Duro do Inácio, do Paulo, etc.
Para uma leitura da «Pesca» ao longo dos anos constatei que: em 1885 existiam na Nazaré ao serviço da pesca, sete artes e oito netas, redes de arrastar para terra. Para o serviço destes aparelhos, havia 27 embarcações e 18 pescadores matriculados (nessa data armavam duar armações redondas com oito embarcações e cinquenta pessoas matriculadas). A pesca do anzol empregava 30 barcas para a pesca do alto com 300 pessoas matriculadas. Em 1892 foi lançada no local Foz a primeira armação valenciana pertencente à Parceria união de pesca da Nazaré. A crise surgiu quando a pesca da sardinha na costa da Nazaré começou a ser explorada por traineiras espanholas e portuguesas, pertencentes aos portos de Peniche, Figueira da Foz e Leixões, que aproveitando as características da pesca artesanal existente na Nazaré, puseram termo a todas as artes da sardinha que aí existiam, isto é, 12 cercos americanos, 8 armações valencianas e duas redondas.»
 
Excertos do texto em que se baseou a conferência proferida no dia 8 de Abril de 1978 no Howard Johnson´s Hotel, Toronto, Canadá, Drª Isabel Fonseca, do SNPRPP.
 
Este texto complementa estas duas fotos, que tirei no Museu de Marinha em Belém há cerca de 2 anos atrás. Na altura, de imediato procurei saber porquê que estas barcas nazarenas são tão semelhantes às lanchas poveiras, mas nada descrevia as origens destas barcas no museu. São barcos que nunca vi noutra fonte associados à Nazaré, excepto ao que parece, numa obra de Roque Gameiro da mesma época destas “armações” da sardinha (imagem 3). Repare-se no modelo, que apresentam um convés a todo o comprimento, algo nunca visto nas outras comunidades que o usavam, os remos trabalhavam só do meio para a proa e não se notam galeotas de suporte ao mastro. Adaptações que denotam a antiga tradição desta zona na arte da construção naval, como bem descreve o texto.
Mais um capítulo a investigar, nas andanças desta tipologia de barco “poveiro”.


publicado por cachinare às 09:13
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