Terça-feira, 29 de Abril de 2025
As memórias do “Gazela”.

 

O lugre-patacho “Gazela Primeiro”, foi construído no estaleiro de J.M. Mendes em Setúbal e os seus primeiros registos, na sua forma actual, datam de 1902.

O “Gazela” foi construído para a pesca do bacalhau nos Grandes Bancos da Terra Nova. Todas as primaveras largava de Lisboa, carregado com cerca de 35 dóris empilhados no convés como se fossem “tigelas”, uma tripulação de 40 homens (35 pescadores / marinheiros, 2 cozinheiros, 2 oficiais e o capitão) e um par de moços. A sua carga à partida era os porões cheios de sal, o qual servia de lastro ao navio. Esse sal seria depois usado para o bacalhau pescado, preservando-o durante meses até à longa viagem de regresso.
Após uma notável e longa carreira comercial, a derradeira viagem do “Gazela” aos Bancos como navio de pesca comercial ocorreu em 1969. Quase de imediato após o “Gazela” ter atracado após a última campanha, o Museu Marítimo de Filadélfia, E.U.A., procurava por um veleiro histórico. A notícia chegou aos proprietários do “Gazela” e no ano seguinte, o navio foi adquirido para o museu pelo filantropo William Wikoff Smith. A 24 de Maio de 1971, com uma tripulação composta por americanos e um antigo engenheiro do “Gazela”, o navio partiu para a sua nova casa em Filadélfia, percorrendo a rota de Colombo através da ilhas Canárias e São João de Porto Rico. A 8 de Julho estava a entrar em Filadélfia.
Em 1985 o “Gazela” foi transferido para o Fundo de Preservação de Navios de Filadélfia, a corporação sem fins lucrativos que agora mantém e opera o navio com o auxílio de mecenas e voluntariado. O lugre-patacho é hoje o navio bandeira de Filadélfia em eventos marítimos, navegando a Norte e Sul da costa Leste dos Estados Unidos.
Sempre em constante restauro, de momento está em trabalhos de substituição de partes do costado, demasiado envelhecidas. De salientar que as características originais do navio são sempre mantidas e respeitadas, mesmo nos interiores como se pode notar na foto onde se podem admirar os detalhes nas portas, nos vidros coloridos ou nas madeiras que dividem os aposentos. Caso o “Gazela” não tivesse sido vendido em 1971 para um local onde valorizam imenso estas coisas, de certeza que hoje não existiria, pois Portugal quase não tem provas dadas no que respeita à manutenção de navios históricos. Os casos mais recentes do navio-museu “Santo André”, o lugre-motor “Santa Maria Manuela” ou o ex-“Argus” que navega neste momento rumo a Portugal, não esquecendo o “Gil Eannes” em Viana do Castelo, são todos navios de construção em aço, sendo menos dispendiosa e problemática a sua manutenção. No entanto não o vejo só como uma questão de finanças. Não esqueçamos que quem trabalha no “Gazela” são na sua maioria voluntários.
 
foto 1 – Gregg M
foto 2 - TREvans
foto 3 – Philip H


publicado por cachinare às 14:05
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