Quinta-feira, 13 de Maio de 2021
O barco salva-vidas – Origens.

São várias as comunidades que se afirmam como o local onde o primeiro barco salva-vidas surgiu, incluindo Bamburgh (Inglaterra) com o trabalho levado a cabo pela Fundação do Lord Crowe no auxílio a pessoas envolvidas em naufrágios. Realmente, Bamburgh pode afirmar ter possuído o primeiro posto salva-vidas, erigido em 1786. Contudo, mesmo esta afirmação é precedida por Liverpool, onde uma minuta da câmara datada de 5 de Março de 1777 se refere a um barco estacionado em Formby “preparado para ir buscar quaisquer pessoas naufragadas nos bancos”, presumindo-se estes serem os bancos de areia na foz do rio Mersey.

Ainda assim existe um enorme caso de prioridade a ser dada à afirmação em nome do rio Tyne, no nordeste da Inglaterra. Pode não ser o posto salva-vidas mais antigo, mas como aplicada e efectiva solução ao problema de salvamento de vidas no mar e ao seu impacto no resto deste país e de outros, os Salva-Vidas do rio Tyne podem orgulhosamente reclamar o primeiro lugar.
O Tyne era um rio extremamente movimentado nos anos 1780s, com um registo de tonelagem (cerca de 106.000 t) apenas superado pelo do rio Tamisa. Em 1787 cerca de 5.000 navios circularam no rio, dos quais 4.400 faziam cabotagem costeira.
A foz do rio Tyne era assim descrita por um capitão daqueles dias: “...a entrada para o porto é muito estreita, com rochedos perigosos de um lado e um longo banco de areia do outro e um baixio a atravessá-lo, onde as ondas frequentemente são enormes...”.
Em 1789, um grupo de homens de negócios que trabalhavam na área marítima, especialmente no comércio do carvão, juntou-se e estableceu-se numa pequena elevação de terreno mesmo à entrada do rio. Um dos membros deste grupo era Nicholas Fairles, o qual por várias vezes havia sido contactado pela comunidade marítima local para que fizesse algo de modo a prestar auxílio às tripulações dos frequentes naufrágios na foz do rio.
A 14 de Março de 1789, o brigue “Adventure” naufragou no banco Herd, apenas a 45 metros da costa e 8 dos seus 13 tripulantes pereceram. Este triste drama foi presenciado por centenas de pessoas em ambos os lados da entrada do porto. Pouco podiam ajudar, e os “cobles” locais (foto 2), que lidavam bem com mar mexido, nessa ocasião pouco podiam contra a ondulação. O impacto deste naufrágio, junto com outros dois no mesmo dia e no mesmo banco de areia, foi catalisador na comunidade local, mas particularmente em Nicholas Fairles para que algo se fizesse contra os perigos da foz do rio. Fairles discutiu o assunto com colegas de negócios e um comité foi formado. Determinaram criar uma instituição para a “Preservação das Vidas de Naufrágios”, com Fairles à cabeça.
O comité colocou um anúncio no Newcastle Courant num sábado, 16 de Maio de 1789, oferecendo uma recompensa de 2 guinéus a quem apresentasse um plano (aprovado pelo comité) “de um barco capaz de levar 24 pessoas e julgado capaz de singrar através de mar muito vivo – a sua intenção é preservar as vidas de marinheiros de navios que dão à costa em fortes temporais e ventos”. A 10 de Junho, em reunião, várias propostas estavam na mesa, mas apenas 2 foram aceites. Uma vez que nenhuma das duas era inteiramente satisfatória, a decisão atrasou-se em cerca de 5 semanas, quando as propostas de William Wouldhave e Henry Gatehead foram reconsideradas. Como o prémio de 2 guinéus não era considerado “generoso”, mesmo naqueles dias, William Wouldhave mostrava-se ofendido por ter sido recompensado com apenas 1 guinéu, quase como consolação. Recusou então o dinheiro, afirmando que a sua proposta seria a melhor. Wouldhave realmente apresentara um desenho inovador que respondia à maioria das necessidades de um salva-vidas em mau tempo. Contudo, o comité considerou que necessitava de vários melhoramentos e assim optou pela proposta de Gatehead, procedendo este à construção indicada pelos patrocinadores.
Conhecido apenas como o “Original” as linhas desse barco podem ser vistas no plano (foto 1) contemporâneo. Características chave, são a quilha curva, a cintura externa em cortiça e os flutuadores internos também em cortiça. Embora a discussão se mantenha sobre de quem era o desenho realmente por trás do barco, a forma resultante foi considerada por profissionais locais como contendo características de três tipos de barcos separados: O topo/convés de um barco de pesca do Mar Báltico, proa e popa de um “yawl” da Noruega e o fundo do casco de um coble de Shields – com a quilha curvada. O barco na foto 3, esteve ao serviço em Redcar entre 1801-1880, salvando centenas de vidas. Foi preservado até hoje e pode-se notar a similaridade ao plano referido.
 
Adaptado do texto de Jeff Morris – Cullercoats Lifeboat Station.
Imagens, da mesma fonte.

 



publicado por cachinare às 16:30
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