Sábado, 20 de Julho de 2024
Uma mulher a bordo.

 

«História curiosa é aquela que conta Manuel Gonçalves Afonso, o chefe Afonso, que passou 23 anos no porão do Santo André, o arrastão que a Câmara de Ílhavo transformou em barco-museu e que o capitão São Marcos chegou a comandar. No início dos anos 80, recorda, o navio teve um piloto do sexo feminino, uma rapariga de Oeiras, destemida, que entrava nas lanchas e trabalhava juntamente com os pescadores da Terra Nova. "O comportamento dos homens era completamente diferente, não se ouvia uma asneira. Aquilo era uma santidade", recorda.

Um dia, porém, a regra teve a sua excepção. A tripulação desembarcou em Saint Jones, onde o Santo André fora reabastecer, e "um daqueles indivíduos para quem é sempre tudo muito fácil armou-se em engraçadinho". "Mas ela não deu hipóteses. Sabia fazer-se respeitar."

O chefe Afonso era responsável pelas máquinas do barco e conta como, às vezes, os pescadores iam para o porão aquecer-se um pouco. "Se lá fora estavam 30 graus negativos, cá dentro estavam 7 ou 8."

Encontrámo-lo no Santo André, onde o chefe Afonso está evidentemente em casa. Debita continuamente dados sobre o arrastão lateral. O nome dos motores, um Werkspoor holandês de 1700 cavalos, sobrealimentado, 265 rotações e passo variável, e um Lister Blackstone para o guincho das redes ("não há melhor do que isto"), as 400 toneladas de combustível com que o barco seguia para a Terra Nova, consumindo seis mil litros por dia, as 200 toneladas da aguada, as 600 toneladas de bacalhau que podiam ser transportadas no porão de salga... "Este é que era bacalhau bom, amanhado, salgado e prensadinho", comenta. "Agora o bacalhau é todo congelado e só é salgado quando chega a terra", lamenta.

A primeira viagem de Manuel Afonso para a Terra Nova foi em 1958. Tinha um trabalho diferente dos restantes: oito horas de serviço na casa das máquinas, excepto quando havia uma avaria e era preciso desmontar tudo e reparar. "Trabalha-se até acabar, 30 e tal horas seguidas sem comer", conta.

Nas águas frias onde o bacalhau habita, as condições são difíceis também para quem tem de tratar das máquinas. O gelo "enfarinhado" tapa os ralos de aspiração de água para a refrigeração dos motores e, por isso, "não havia mãos a medir". "Tínhamos de desentupir tudo de dez em dez minutos."

Os cabos das antenas congelavam e caíam. As placas de gelo sacrificavam as hélices e provocavam fugas de óleo. A água doce congelava nos reservatórios e era preciso racioná-la. "Só se podia tomar um banho por semana." Nos momentos piores, era preciso colocar bojões nas torneiras, para que não pudessem abrir-se. "Depois vieram os vaporizadores que dessalinizam a água do mar e mudou tudo", conta.

Lá fora, às vezes, levantavam-se grandes tempestades com ventos gelados de 200 quilómetros por hora e vagas que entravam no barco e encharcavam também a casa das máquinas. "Andava tudo aos trambolhões."

Entre 1965 e 1990, o chefe Afonso assistiu "quase todos os dias" a histórias que talvez valesse a pena contar - se fosse capaz de recordá-las. Mas lembra-se, isso sim, que as condições de trabalho na Terra Nova eram extremamente difíceis, ao ponto de alguém que saísse para a ponte ficar com as barbas congeladas. "Era tudo gelo, mas é no gelo que está o bacalhau. Muita gente come o bacalhau e não sabe o sacrifício que é pescá-lo", remata. "Agora há quem lá vá só para comprar [aos armazéns] e trazer, sem pescar nada."»

 

por Jorge Marmelo – in Público - 2/1/2010

imagem: bacalhoeiro "Santo André" em Ílhavo



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Sexta-feira, 24 de Novembro de 2023
Andou 16 anos no bacalhau.

 

 

«João Carlos Caetano esteve na pesca do Bacalhau e relata em diário publicado a primeira viagem aos bancos da Terra Nova e à Gronelândia. Ao Correio dos Açores conta outras vivências da pesca e relata o pedido que fez na altura em que decorriam as festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres. "Estávamos entalados no gelo e o navio não conseguia passar. De joelhos e mãos postas pedi que o Senhor nos ajudasse a sair dali, senão morríamos, houve um milagre. O gelo abriu um pouco e conseguimos passar".

 "Pesca do Bacalhau - Diário de Bordo de João Carlos Caetano - De S. Miguel à Gronelândia - Ano de 1952" é o título do livro que o pescador da pesca do bacalhau lançou com o apoio da Câmara Municipal de Lagoa e co-financiada pelo Programa Prorural - Eixo 3.
A obra relata a primeira viagem aos Bancos da Terra Nova e Gronelândia de João Carlos Caetano realizada no ano de 1952 a bordo do navio "Oliveirense". E todas as peripécias vividas durante os seis meses em que seguiam a bordo. "Éramos entre 50 a 60 pessoas a bordo, incluindo o capitão, o motorista, o imediato e os ajudantes. Vivíamos como uma família, não havia discussões, mas muitas das coisas que passamos e que hoje podia contar ficaram diluídas no tempo", diz-nos o autor da obra, que recorda ao Correio dos Açores os momentos mais marcantes da sua vida enquanto pescador do bacalhau.
Na altura João Carlos Caetano era moço de convés deste navio tendo anotado, por escrito, os principais acontecimentos que marcaram esta sua viagem na aventura da pesca do bacalhau, e como conta ao Correio dos Açores conseguiu reunir as principais vivências no mar em seis cadernos, que dizem respeito aos dezasseis anos que desempenhou esta actividade.
João Carlos Caetano iniciou a sua profissão enquanto pescador em 1952, quando tinha apenas 17 anos, acabando 1967, altura em que comprou um barco de boca aberta, com 11 metros, e dedicou-se afincadamente à pesca artesanal no Porto dos Carneiros, na freguesia do Rosário, na Lagoa, onde viveu toda a sua vida, tendo feito um interregno de 14 anos, por ter emigrado para a América, onde se fixou em Fall River. Como conta a ida para a América teve apenas como objectivo dar um futuro melhor aos seus filhos. Dos sete, seis casaram e estão a viver na terra da oportunidade, um está na lagoa, onde trabalha na Lota, lugar onde o pai trabalhou também durante 16 anos [antes chamava-se Casa dos Pescadores e depois Lotaçor], depois de ter vendido o barco, por ter adoecido.
Na América, trabalhou num estaleiro a fazer barcos, mas tanto ele como a mulher sempre sonharam foi regressar à sua terra de origem, o que fizeram 1996.
Mas importa voltar aos tempos em que começou a sua labuta no mar. Como se disse começou aos 17 anos, altura em que partiu para Lisboa, para a Escola de Pedrouços, no continente, para aprender a arte de marinharia e navegação, mas também aprender a remendar a rede, a fazer correias, a fazer roupa. Regressou à Lagoa passado este período para fazer a sua mala e partir uma semana depois para alto mar. A vida no mar naquela altura era dura, porque estávamos seis meses num navio de barco à vela. Na altura éramos 8 moços, que em vez de irmos à tropa fazíamos este tempo no mar. Houve um ano em que adoeci e tive de fazer tropa no continente, durante os seis meses em que o navio estava na pesca do bacalhau.
João Carlos viveu dias difíceis, mas diz que naquela altura era novo e não tinha medo de nada. Mas um dia, altura em que São Miguel que festejava o Senhor Santo Cristo dos Milagres o navio teve de aportar em St. John, no Canadá, para deixar um amigo doente em terra. Depois de o deixarem em terra enfrentarem uma adversidade: encontraram gelo e o navio ficou entalado. Foi um caso sério. Pensávamos que não íamos sair dali e que lá ficaríamos. De joelhos e mãos postas ao alto pedi ao Senhor Santo Cristo dos Milagres que abrisse um pouco o gelo para que conseguíssemos passar. Quando Deus quis isso aconteceu, tendo o navio passado por uma nesga aberta no gelo. Foi milagre.
Nos seis meses, quando estavam nos bancos da Terra Nova cerca de mês e meio andavam sempre à pesca sem ver terra.
Hoje a pesca à linha acabou mas na altura em que João Carlos estava na pesca do bacalhau era tudo manualmente que era feito, quando hoje a pesca é feita de arrasto e leva tudo à sua frente. Na minha altura, de manhã entregavam-nos 45 sardinhas para fazermos a isca e lá íamos em botes. Quando estava bom tempo os botes espalham-se e ia cada um para seu lado, mas um dia o tempo virou. Saímos com bom tempo mas pouco depois houve uma enorme tempestade. O navio içou a bandeira para que regressássemos. A sirene tocou. Mas um homem faltou à chamada. Era o José de Matos, da Calheta de Ponta Delgada, que desapareceu e nunca mais apareceu. Foi uma tragédia. Ficamos muito tristes. Dar a noticia à família foi terrível. As mulheres contavam os meses para que os maridos chegassem e aquela família teve foi uma triste notícia.
Fora esta tragédia não houve mais nenhuma perda humana, mas João Carlos também assistiu ao desaparecimento do navio, que se afundou, após ter pegado fogo. Diz que foi o primeiro a ver o fumo e deu o alerta. Salvamo-nos todos mas perdeu tudo, roupa e dinheiro e todo o bacalhau pescado, que havíamos escalado, salgado e colocado no porão, como sempre fazíamos. Saímos em botes, e felizmente fomos salvos pelo navio "São Jorge" que estava perto.
De tudo, a mágoa maior que João Carlos tem é que trabalhou tanto, de sol a sol, debaixo de tempestades, longe da família, e recebe uma reforma de miséria, porque o Estado português entendeu que devia juntar à fraca reforma que recebe da América. Descontou trinta e cinco anos, mas de pouco valeu. Hoje que está doente lembra com tristeza o sofrimento que teve, embora fizesse tudo com gosto, mas que hoje devia gozar de algum bem-estar monetário mas nem isso lhe dão.

Salão Nobre da Junta de Freguesia de Nossa Senhora do Rosário foi pequeno demais para todos quantos quiseram assistir ao lançamento do livro Pesca do Bacalhau - Diário de Bordo de João Carlos Caetano - De S. Miguel à Gronelândia - Ano de 1952. Na presença de amigos, colegas e familiares, João Carlos Caetano apresentou o seu registo escrito dos tempos que era moço de convés, numa obra que contou com o apoio da autarquia lagoense.
Para João Ponte, Presidente da Câmara Municipal de Lagoa, este livro é um relato escrito que permite um conhecimento mais profundo da árdua vida dos pescadores que se dedicavam à pesca de bacalhau, onde tomamos consciência deste mundo próprio que caracteriza de um modo simples, mas autêntico, a realidade do que é ser-se pescador.
O autarca lagoense destacou na ocasião a dedicação de João Carlos Caetano, um lagoense que exerceu a profissão e a arte da pesca durante muitos anos e que depois desta incursão na pesca do bacalhau, que desempenhou durante vários anos, dedicou-se à pesca artesanal no Porto dos Carneiros.
João Ponte disse ainda que com a publicação deste livro, a Câmara Municipal de Lagoa procura deixar um legado e um testemunho vivo de dedicação, coragem e trabalho no exercício de uma actividade que, outrora, era certamente mais difícil.
Segundo o edil lagoense, a narração destes episódios da pesca do bacalhau, agora publicada em livro, assume-se como um exemplo vivo para as gerações vindouras e uma homenagem a todos aqueles que se dedicaram à actividade piscatória, sacrificando, muitas vezes, as suas vidas, sendo, igualmente, um sinal, claro e inequívoco, do apreço e gratidão da autarquia para com quem desempenhou uma actividade difícil e arriscada ao longo da sua vida, com inegáveis contributos para o desenvolvimento económico e social da Lagoa.
A Lagoa foi, é, e sempre será terra de pescadores, terra de homens corajosos que buscam o seu sustento nas águas revoltas do mar, numa profissão perigosa mas igualmente desafiante, uma imagem de marca do concelho e uma das bases da nossa economia, concluiu.»

 

Autora: Nélia Câmara – 04-07-2010, Correio dos Açores.



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Segunda-feira, 2 de Outubro de 2023
Bacalhau, uma história épica.

 

«A história da pesca do bacalhau é quase a história da civilização ocidental. Para Portugal é uma história épica intimamente ligada aos descobrimentos e ao renascer da pesca no século XX.

Os antigos registos apontam como certo que os vikings aportaram à região da Bairrada durante o século IX, ainda antes da formação de Portugal. Misto de guerreiros e de comerciantes, traziam consigo bacalhau seco que trocavam por sal e vinho. Ou seja, os noruegueses antigos trouxeram para Portugal o gosto a bacalhau.

Depois da formação de Portugal, já no reinado de D. Pedro I, em 1303, há registo escrito de que um tal Afonso Martins, em representação dos pescadores bairradinos, estabeleceu acordo com o rei de Inglaterra para pescar bacalhau nas costas britânicas.

Os reis portugueses estavam preocupados com as descobertas das rotas das especiarias. Um mapa português datado de 1424 (guardado no museu Britânico) mostra que já se conheciam a Terra Nova e a Nova Escócia. Aliás os navegadores de Viana do Castelo, de que João Álvaro Fagundes é o mais conhecido, e os Corte-Real, povoadores dos Açores, baptizaram aquela «ilha» de Terra Nova dos Bacalhaus. Ou seja, a busca da Índia fê-los encontrar um outro tesouro.

O rei D. Afonso V fez um acordo com o rei Christian I da Noruega e Dinamarca para que navegadores dos dois países tentassem encontrar a falada passagem do noroeste, que daria acesso ao Oceano Pacífico, contornando a grande «ilha» da Terra Nova. Sabe-se que em 1446 essa viagem já tinha sido realizada.

A rota da Terra Nova passou a ser dominada pelos navios portugueses. A pesca era de tal modo florescente que em 1506 D. Manuel lançou um imposto sobre a pesca da Terra Nova.

Pelo meio de tudo isto há que salientar a criação de um novo método de curar peixe que passou a ser utilizado tanto pelos portugueses como pelos bascos. O peixe capturado nas costas inglesas vinha nas barcas e caravelas até às costas ibéricas. Para que não apodrecesse limpavam-no logo de vísceras e cabeças e salgavam-no no barco par o conservar, tal como se fazia com as carnes. Mas, depois de descarregado o peixe ainda escorria muito água. Daí se ter passado a secá-lo nas rochas costeiras. Assim era mais fácil de transportar, era mais durável e os comerciantes pagavam mais por este peixe bem curado.

Quando Portugal esteve sob domínio de Espanha toda a frota de pesca portuguesa foi arregimentada para fazer parte da chamada Invencível Armada, com a qual Filipe III queria vencer os ingleses. A derrota da frota ditou a queda das pescas portuguesas. Sem embarcações capazes, os portugueses só retornam aos bancos de bacalhau da Terra Nova quase dois séculos depois.

A pesca do bacalhau só ganha nova forma e força no Século XX com a aposta feita pelo Estado Novo em voltar à pesca longínqua.

Mas a pesca do fiel amigo era feita em exagero. As frotas americana, canadiana, espanhola pescavam bacalhau sem parar. Os portugueses mativeram durante muito tempo as artes de pesca tradicionais, usando a linha e os dóris para captura o fiel amigo.

Nos anos 90 acaba-se a pesca do bacalhau na Terra Nova. Os cardumes estavam á beira do esgotamento. A frota portuguesa, por utilizar métodos de pesca antiquados (pesca à linha) por comparação com a maior parte dos outros navios de pesca, acabou por ser a menos responsável no esgotamento dos stocks. Passados mais de 15 anos, a pesca de bacalhau naquela área, os cardumes de bacalhau ainda não voltaram a atingir um nível sustentável.

Agora, em Portugal, de novo, é dos mares frios do Norte da Europa, tal como nos primórdios da nossa nacionalidade que nos voltou a chegar o nosso fiel bacalhau.»

 

in Mar da Noruega

foto - lugre bacalhoeiro português "Gaspar", em 1947.



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Segunda-feira, 23 de Janeiro de 2023
A Frota Branca e A Iconografia do Poder - 2.

 

«Como que a comprovar o papel do navio-hospital “Gil Eannes” como ícone do nacionalismo português e a tela de Domingos Rebelo como o ícone dos sistemas familiares e sociais, um outro ícone da ideologia do Estado Novo a bordo do “Gil Eannes” representava a presença de Deus (omnisciente, omnipotente, omnipresente) na forma de uma capela no convés. Com as portas da capela abertas, o presente vê que este pequeno local de adoração continha uma outra obra de Rebelo que efectivamente retratava o papel central da religião (Deus) na relação entre bacalhau, o pescador-de-dóri a trabalhar nos Bancos e a família em casa em Portugal – todos unidos através da mãe de Deus.
A Virgem, de braços abertos a receber todos os que lhe prestam homenagem, é o ponto focal do arranjo triangular do espaço. À esquerda, dois pescadores-de-dóri prestam respeitos a Deus através da Virgem. Um veste a típica camisa de flanela, calças grossas e botas de borracha, envergando as roupas de mau tempo enquanto se dirige em direcção à Virgem. O outro homem, vestido com camisola grossa e avental de trabalho, ajoelha-se enquanto reza com as mãos em gesto simbólico e olhos cerrados. Aos pés do pescador de pé está a representação de um enorme bacalhau – a razão pela qual está nos Bancos e longe de família e casa. À direita, mãe e criança (esposa e filho) em Portugal rezam à Virgem pelo bem e segurança no regresso do seu marido e pai. Uma saca no chão, talvez contendo os seus trabalhos ou algumas peças de roupa, complementa o bacalhau. As cores envergadas por mãe e filho são sombrias, sugerindo um estado de meditação, enquanto as vestes dos homens nos Bancos sugerem calor e protecção contra os elementos. As cores que rodeiam a Virgem – azuis e branco – separam-na das figuras terrenhas.
Nesta obra da era do Estado Novo, vemos que os mitos idealizados a rodear a indústria bacalhoeira do pós-guerra baseavam-se em três símbolos básicos. Primeiro, o “Gil Eannes” era representativo da Pátria no mundo moderno. Segundo, a tela de Rebelo simbolizava a inter-relação entre a indústria de pesca ao bacalhau portuguesa e a Família, fundação na qual assentava o sistema de benefícios. Finalmente, a capela com a sua outra obra de Rebelo simbolizava a presença de Deus – desde sempre o ícone unificador da expansão portuguesa além-mar.
Contudo, entre o mito no qual o Estado Novo idealizava o pescador-de-dóri e a realidade da vida nos bancos, existia um grande vazio. Dentro da memória colectiva do pescador-de-dóri português, existia ainda a memória de tempos antigos de virtual escravatura; tais como os descritos por Alan Villiers numa conversa que teve com o seu camarada Pierre Berthoud em 1929, quando o seu navio (o “Grace Harwar”) cruzou uma pequena frota de escunas portuguesas que rumavam aos Bancos: “Uma vida dura, diz você?” olhava furioso o francês para mim. “Uma vida de cão, isso é que é! Meu Deus, não há vida mais dura sobre o mar! Toda a pesca é dura, mas aquela é a pior, mais dura forma de ganhar a vida que conheço. Aqueles tipos terão sorte se regressarem a casa daqui a seis meses. Sim, e alguns deles não regressarão. Dou-vos um conselho, camaradas, a vida agora está difícil por toda a Europa, mas nunca vos ponhais a bordo de um daqueles. Aqueles portugueses usam dóris de um só homem. Afastem-se deles!” (Alan Villiers 1951, cap.17).»
 
 
Num breve comentário, gostaria de abordar dois pontos desta análise de Priscilla Doel:
 
1 – quando diz que “...um outro ícone da ideologia do Estado Novo a bordo do “Gil Eannes” representava a presença de Deus (omnisciente, omnipotente, omnipresente) na forma de uma capela no convés.” – Não me parece que a capela no convés de tão importante navio como o “Gil Eannes” fosse obra da “ideologia” do Estado Novo, pois desde sempre grandes navios tiveram uma capela a bordo, fossem navios de passageiros ou transporte. Hoje em dia, os mais modernos navios incluem uma capela ou até diferentes locais de culto a bordo para as diferentes religiões dos passageiros. Além disso, os pescadores por natureza sempre foram e ainda são pessoas muito crentes, independentemente das ideologias temporais.
 
2 – A descrição do marinheiro francês em 1929 sobre a pesca do bacalhau será na sua maioria verdadeira. No entanto, ainda por alturas de 1929, a frota bacalhoeira francesa na Terra Nova e Labrador tinha o hábito de deitar borda-fora pescadores que morriam a bordo, de exaustão, maus tratos e doença.
Nunca li ou soube de algo semelhante na frota portuguesa dessa ou de outra altura. Poderei vir a descobri-lo no muito que me falta ler... ou talvez não. 21 anos mais tarde, Alan Villiers experimentaria a vida daquela frota portuguesa e o resultado é bem conhecido.
 
Traduzido de: – Priscilla Doel “The Iconography of Power”, a chapter in The Portuguese in Canada (University of Toronto Press) - 2000.
 
Foto de Rui Agostinho - SérgioCruises.
 
Fundação “Gil Eannes” – Viana do Castelo.


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Sexta-feira, 13 de Janeiro de 2023
A Frota Branca e A Iconografia do Poder - 1.

«Devido a dificuldades de tempo e distância relacionadas com a gestão das pescas longínquas, era difícil ao Estado Novo manter total controlo sobre os homens da frota portuguesa. Os navios de pesca moviam-se de umas área de pesca para outras e tinham contactos frequentes com pessoas de outras nações nos portos canadianos, onde pescadores e oficiais experimentavam um estilo de vida menos rígido e mais democrático – um desafio aos sistemas de controlo do Estado Novo.

De modo a solidificar uma inabalável ligação a Deus, Pátria e Família, o novo (navio-hospital) “Gil Eannes” incorporava símbolos destes conceitos nos seus motivos decorativos. O estado comissionou o artista açoriano Domingos Rebelo para pintar duas obras no navio: uma para adornar uma grande parede nos aposentos do comandante e outra para avivar o altar da pequena capela no convés. Em concordância com o uso por parte do Estado Novo, de símbolos morais para justificar arranjos institucionais do seu sistema político “grupos criativos (como os artistas)... definem e promulgam imagens oficiais do mundo e do que nele se passa, definições oficiais da situação” (Gerth and Mills, 1953: 212-13)
Os aposentos do comandante exibiam a colorida tela de Rebelo. Com um enquadramento narrativo de uma obra patrocinada pelo estado, o artista reconstrói visualmente a história épica da vida do pescador-de-dóri de modo a suprimir outras versões dessa mesma vida, que era bem conhecida pela sua dureza, sacríficio, privação e abuso físico e psicológico. A maioria dos que olhavam para a obra, provavelmente não analizavam a sua estrutura, estilo, ou conteúdo, mas sim reagiam aos símbolos nela interiorizados. Domingos Rebelo, contudo, guia quem olha através das três cenas narrativas que rodeiam o pescador. Por exemplo, se olharmos para o pescador em grande plano, de imediato nos fixamos na sua face. Ficamos presos à tela com o remo que segura nas mãos. Depois, o movimento circular dos seus braços ergue-nos o olhar para o topo do remo e daí para a esquerda, permitindo-nos ver a sua vida famíliar em Portugal. O berço no fundo à esquerda, guia-nos depois para o rapaz e o seu mentor até ao icebergue por trás do pescador no horizonte. De novo direccionados pelo remo, da esquerda para a direita somos levados para a outra cena em Portugal, onde todos os pescadores, no activo ou reformados, recebem apoio. Através da integração na tela de diferentes espaços artísticos e lugares geográficos, o artista apresenta a vida, idealizada por imagens de memória, de um típico pescador-de-dóri dos Grandes Bancos.
Ao considerar as imagens, perguntamo-nos quem é este aprumado e sem emoção homem que enverga a típica camisa de flanela aos quadrados, e nos olha directo e fixamente? A mensagem é clara. Este é um pescador anónimo – o estereotipo do bom, humilde, obediente, estável pescador. Ele é pai e marido. Ele é todos os pescadores nos quais assenta a responsabilidade do bem da Pátria e Família. Ele é o fiável “Zé Pescador”, a figura central numa missão nacional.
O papel paternalista do Estado Novo na vida da família do pescador durante a sua ausência de seis a sete meses, pode ser notada à esquerda, onde vemos edifícios representativos da saúde, educação e programas sociais administrados pelo Estado Novo, através da Junta Central de Casas dos Pescadores. Proeminente em grande plano está o filho – o futuro pescador – recebendo instrução na escola de pesca e navegação. Com o seu tutor, estuda um modelo de veleiro. Além do rapaz encontra-se uma rapariga que aprende a coser de modo a preencher a sua posição no Estado Novo como mãe e dona-de-casa. Maternidade e famíia claramente dominam esta cena, com uma mãe expectante a segurar o seu bebé e outro infante no berço. O Estado Novo tinha grande orgulho nos seus programas que promoviam a nutrição, higiene e serviços de saúde, simbolizados pelo grande edíficio. Outros programas sociais incluiam centros de dia e a construção de novas casas para os pescadores e suas famílias, como se pode notar em fundo.
A cena à direita, de novo mostra o braço protector do Estado Novo que cuida do pescador activo quando se encontra em casa, ou do pescador reformado. O Estado Novo, pela mão de ferro do Comandante Henrique Tenreiro, representante do governo no Grémio, supervisionou muitos programas que providenciavam cuidados e serviços: transporte (a Volkswagen) equipamento (roupas de oleado) saúde (a mesa de operações) e casas para os reformados (à direita).
A cena no horizonte mostra três memórias evocativas da pesca do bacalhau nos Grandes Bancos: o enorme icebergue ao centro, o grande banco de nevoeiro que se aproxima pela esquerda e o famoso e adorado “Gazela” (agora em posse da cidade de Filadélfia, E.U.A.) à direita. Todos estes ícones são brancos. O artista não narra nada sobre este horizonte em detalhe. São precisamente as durezas por detrás destes ícones que estão ausentes desta obra – as realidades da vida nos Bancos.
Ao considerar esta obra e o seu grande simbolismo na posição do humilde pescador na Nação, falta colocar uma última questão. Quem via este quadro pendurado no salão dos aposentos do comandante? Os pescadores de certeza que não entravam neste espaço, mas sim oficiais de estado, dignatários em visita e capitães dos navios de pesca, que eram aqui recebidos e operavam reuniões. A visita de dignatários estrangeiros traria provavelmente com eles os seus próprios símbolos interiorizados, que seriam contrários ao regime autoritário. Também, e da maior importância, os capitães portugueses, a maioria dos quais era formada e falava inglês, estaria exposta nas suas andanças e contactos pessoais e profissionais nos portos canadianos aos contra-símbolos de um sistema político e social mais democrático. Assim, aqueles que tivessem a tentação de considerar outros sistemas de estado como mais viáveis, eram controlados pela apresentação visual nos aposentos do comandante do navio de estado. Os símbolos usados nesta obra serviam também para evocar o orgulho português no pescador-de-dóri e nas suas campanhas.»
 
Traduzido de: – Priscilla Doel  “The Iconography of Power”, a chapter in The Portuguese in Canada (University of Toronto Press)  - 2000.
 
Fundação “Gil Eannes” – Viana do Castelo.


publicado por cachinare às 13:54
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Quarta-feira, 10 de Agosto de 2022
St. John´s, Terra Nova - 1967.

Ao que parece no convés do “Gazela Primeiro”, como era habitual secam-se as velas dos dóris numa variedade de cores que infelizmente a grande maioria das fotos existentes não nos podem mostrar pelo facto de serem a preto e branco. A amarela será pertença de um pescador nortenho, enquanto a vermelha será de um pescador do centro de Portugal, a chamada vela de carangueja. Existia ainda a armação de vela “à algarvia”, mais rara.

 
Foto, direitos reservados – second cello.


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Segunda-feira, 21 de Fevereiro de 2022
A preto e branco.

O imponente gurupés do lugre-patacho “Gazela Primeiro”. Foto de Eduardo Lopes, 1951-53.



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Domingo, 20 de Junho de 2021
A preto e branco.

https://fotos.web.sapo.io/i/ob314c619/18266973_1QLUV.jpeg

Belíssima imagem de lugres bacalhoeiros portugueses no porto de São João da Terranova. É possível apreciar os detalhes que estes navios de trabalho ostentavam, tanto nas suas popas, como nas proas. Vendo-se os painéis de popa do “Dom Deniz” e do “Gazela Primeiro”, a proa e beque são do lugre “Hortense”. Foto de Eduardo Lopes, 1951-53.



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Quarta-feira, 9 de Setembro de 2020
A preto e branco.

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Trabalhos de marinharia nos mastros do lugre-patacho “Gazela Primeiro”. Foto de Eduardo Lopes, 1951-53.



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Segunda-feira, 1 de Junho de 2020
A preto e branco.

https://fotos.web.sapo.io/i/o98116d03/18266975_Vhv7p.jpeg

O lugre-patacho “Gazela Primeiro” a navegar. Foto de Eduardo Lopes, 1951-53.



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Quinta-feira, 3 de Outubro de 2019
A preto e branco.

Benção 1938

O ano é 1938 e os navios… lugres bacalhoeiros no rio Tejo a aguardar a partida para a Atlântico norte. Sempre de admirar os detalhes de decoração que todo o tipo de embarcações destes tempos recebia. O cuidado e brio de quem as construía e manobrava, muito diferente dos grosseiros gostos modernos onde praticamente nada se decora.



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Segunda-feira, 27 de Maio de 2019
"Terra Nova", com fotografia de Luís Branquinho.

terra nova filme 2.jpg

«"Terra Nova" é um filme escrito e dirigido por Artur Ribeiro inspirado livremente  em dois contos de Bernardo Santareno; “O Lugre” e “Nos Mares do Fim do Mundo”.

O enredo segue uma viagem de um Lugre, o Terra Nova por mares do Canada e da Gronelândia na pesca do bacalhau e passa-se em 1937.  

O drama desenvolve-se quando o Capitão se apercebe que a pesca é miúda nos mares do Canada e resolve dirigir-se em direção à Groelândia onde nunca antes os Portugueses tinham pescado. Começa um conflito entre a sabedoria do Capitão e os mitos dos pescadores que acham que na Gronelândia serão tramados pelo mar Artico desencadeando um motim a bordo.

Filmamos a bordo do Lugre Santa Maria Manuela, quinze dias em mares da Noruega mais 3 em Portugal a simular o Artico, outros quatro dias em estúdio onde a direção de arte construiu de forma brilhante o “rancho” (onde os pescadores comiam e dormiam) em cima de um sistema de pêndulo para simular o balanço do navio e três dias no interior do Lugre Creoula para fazer os interiores da Messe dos Oficiais.

terra nova filme 1.jpg

A Câmara usada foi uma Alexa Mini. Foi quase tudo filmado com câmara à mão com objetivas Cooke S4i no formato 2.39 esférico captado em Arri Raw.

A bordo do Lugre só numa cena usamos luz artificial, de resto filmamos sempre com luz natural, e fomos abençoados pela bela luz do hemisfério norte.

A chefia da equipa técnica coube a David Vasquez como Focus Puller, Pedro Paiva como Gaffer e Tiago Caires como maquinista. Muito colaboraram para o sucesso da empreitada que foi fisicamente muito exigente, pois filmar em barcos obriga a uma capacidade de adaptação às circunstancias náuticas e climáticas fora do normal.

A estreia está prevista para meados de 2019»

texto e fotos – Associação de Imagem Portuguesa.



publicado por cachinare às 20:25
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Segunda-feira, 13 de Maio de 2019
A preto e branco.

PT-CPF-EL-000245_m0001_derivada

A pesca do bacalhau pelos portugueses foi dura, mas muito bela em certos aspectos. Esta foto mostra o lugre “Hortense” e um pescador a aproximar-se do seu navio para descarregar a farta carga de bacalhau que lhe preenche todo o dóri. Foto de Eduardo Lopes, 1951-53.



publicado por cachinare às 15:48
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Terça-feira, 22 de Maio de 2018
"Por Entre as Brumas de Newfoundland".

brumas newfoundland romance 2.png

 «Numa demanda por dar um rumo à sua vida e marcado pela memória do avô António que pescara bacalhau à linha num dóri, nos Grandes Bancos da Terra Nova e da Gronelândia, Vasco decide viajar até à cidade de St. John's, Newfoundland. Nas águas canadianas, o avô vivera a traumática experiência de se perder no nevoeiro. Uma carta de um pescador, nunca lida até ser encontrada, mais de quarenta anos depois de ter sido escrita, levanta questões a que Vasco quer dar resposta, na tentativa de colmatar um elo quebrado da história. Um romance que pretende ser uma homenagem a todos aqueles que viveram as duríssimas campanhas da pesca do bacalhau, bem como um tributo à arte da pesca solitária nos dóris e à Frota Branca portuguesa.»

 

Este é mais um reflexo da emotiva epopeia da pesca do bacalhau levada a cabo pelos pescadores de Portugal, retratada no formato de romance e que nunca é demais ser explorada no papel que teve tanto para portugueses como para estrangeiros, nomeadamente as gentes de São João da Terranova.

Esta belíssima obra de Fernando Teixeira mostra-nos uma das fotos mais emblemáticas de Alan Villiers na capa, o lugre "Aviz" cerca de 1950, em "descanso" no nevoeiro do Atlântico Norte.

É um livro que pode ser adquirido em formato digital ou impresso, através do respectivo website: https://fernandojteixeira.wixsite.com/website-2  



publicado por cachinare às 22:11
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Terça-feira, 13 de Março de 2018
O navio-motor “Pádua”.

Tendo recebido nos últimos dias algumas visitas ao blogue vindas de Aberdeen, na Escócia, por certo de algum emigrante português, tal lembrou-me desta imagem há muito à espera de ser mostrada. Trata-se do arranjo geral do navio bacalhoeiro “Pádua”, construído precisamente em Aberdeen no ano de 1947, nos estaleiros de Hall Russel Ship Builders. Este navio para a pesca do arrasto foi a sua construção nr. 799, estaleiros estes que iniciaram construções em 1864 e fecharam portas em 1992.

Este navio em aço de cerca de 67 metros de comprimento, 11m de boca e 5m de pontal, deslocava 1.296 toneladas brutas e o seu armador foi a Empresa Comercial e Industrial de Pesca (PESCAL) de Lisboa. Em 1968 receberia o nome de “Aida Peixoto” e voltaria em 1980 ao original “Pádua”.
Os seus dias terminariam em 1991, possivelmente desmantelado (não confirmado), na onda de muitos outros nos inícios dos anos 90, por directivas comunitárias na sua maioria. Uma das suas poucas fotos existentes é esta, do Museu Marítimo de Ílhavo.
No link abaixo é possivel descarregar uma imagem maior deste arranjo geral do navio, onde é possível ver em detalhe como se dividiam os vários compartimentos, desde o local dos porões do peixe, a onde se guardava o vinho, o rancho da tripulação, ou os enormes depósitos de fuel. Algo que poderá ajudar os modelistas navais que hoje em dia se vão apercebendo cada vez mais dos muitos e interessantes navios da frota bacalhoeira portuguesa. É preciso pegar neles, estudá-los e torná-los visíveis de novo hoje em dia, na arte do modelismo.
 
“Pádua” – arranjo geral.


publicado por cachinare às 22:04
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Quinta-feira, 30 de Novembro de 2017
A preto e branco.

PT-CPF-EL-000248_m0001_derivada

A bordo do lugre-patacho “Gazela Primeiro”, nos anos 50 um pescador demonstra como se apanhava bacalhau “à zagaia”, instrumento de pesca que não usava isco, atraíndo o bacalhau pela sua chumbada em forma de peixe. Foto de Eduardo Lopes.



publicado por cachinare às 19:21
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